Desafios da Moda Plus Size
O mercado plus size vem se tornando um dos nichos mais lucrativos da moda. Se antes era pouco provável ver modelos plus size em passarelas, desfiles e editoriais, agora não é mais! Já podemos inclusive ver estes modelos fotografados nos catálogos das coleções.
Este fenômeno anda na contramão do padrão de beleza definido socialmente no mundo, que tem os perfis magros e longilíneos como referência. Mas uma coisa é certa, este é só o começo de uma iniciativa comercial que tem muito potencial de crescimento, mesmo em um dos mercados mais disputados em todos os lugares do mundo, o mercado da moda.
"O mercado plus size se manteve inexplorado desde o início da produção em série de roupas, depois da segunda guerra mundial. O processo de industrialização da confecção precisou criar padrões de tamanhos, porque na produção em série as roupas não podem mais ser feitas sob medida.
Mas a descoberta dos padrões de tamanhos que conhecemos hoje e atendem ao amplo mercado de homens, mulheres e crianças usuários de roupas, percorreu um longo caminho para chegar até aqui.
Acontece que nos anos 50 ainda não havia arquivo das medidas de um grande número de pessoas que servisse de modelo para a criação das tabelas de medidas. Concluindo, o melhor padrão de medidas dos tamanhos de homens, mulheres e crianças foi sendo definido com a experiência de erros e acertos direto na produção, com todos os prejuízos que isso causava.
Como os tamanhos com incidência do maior número de pessoas eram os mais comprados, eles passam a ser os mais escolhidos para confecção pelas indústrias, que precisavam vender a sua produção. Os tamanhos plus size não atendem à maioria das pessoas e, talvez por isso, permaneceram no nicho de "mercados inexplorados" por tanto tempo."
Crédito:jacoblund
Mas isso começa a mudar. Em um mercado tão disputado quanto o mercado da moda, um nicho inexplorado contém oportunidades muito valiosas!
No entanto, a industrialização da confecção de roupas plus size precisa passar pelos processos que a industrialização da confecção também passou. Alcançar um sucesso de vendas estável e promissor para este público exige conhecer seu potencial de consumo e suas necessidades.
Sem falar naquilo que nós da Modacad achamos fundamental. Criar tabelas de medidas baseadas em amostras de medidas de pessoas plus size!
Um grande número de amostras de medidas de pessoas plus size pode orientar a criação de tabelas mais qualificadas para acertar nas vendas das roupas.
Só isso pode encurtar aquele longo caminho de descobrir as coisas por erros e acertos na prática, com prejuízos inadmissíveis no disputado mercado de moda dos dias de hoje.
No entanto, para que todo esse processo técnico e comercial comece a configurar este mercado, precisamos primeiro lidar com o ambiente cultural em que vivemos.
Existe um preconceito com as grandes numerações por parte dos lojistas, de acordo com a presidente da ABPS Associação Brasileira Plus Size, Marcela Elizabeth, em entrevista ao jornal Estado de Minas
“O lojista até tenta comprar um tamanho maior, mas tem vários receios. Ele tem medo de perder o público que já tem, por ser tachado como dono de loja para gordos. Ainda existe muito tabu com o público obeso. Há um imenso desconhecimento quanto ao público plus size. Este número (de vendas) poderia ser muito maior”.
De acordo com pesquisas feitas pela associação, 63% dos consumidores relatam dificuldades em encontrar seu tamanho de roupas com variedade de estilo e 77% relatam dificuldade para encontrar peças bem modeladas, que vistam bem.
Como é esse mercado para o consumidor final? Será que todos os tamanhos são atendidos? Realmente está mais fácil encontrar roupas plus size no mercado de moda? Como as pessoas gordas se sentem na hora de comprar suas roupas?
Durante muitos anos, as roupas confeccionadas para os tamanhos maiores eram em sua maioria de modelos largos, escuros e lisos. Isto é, eram modelos básicos, sempre um pouco à margem da moda da estação.
Muitas mulheres com quem conversamos contam que a opção para vestir roupas coloridas, estampadas e ajustadas ao corpo enfim, roupas mais jovens e femininas, era aprender a costurar ou encontrar uma boa costureira.
Isso é ainda mais complicado na hora de procurar roupas como vestidos de festa e o tão sonhado vestido de noiva. Muitas mulheres plus size relatam que ir a uma festa é muitas vezes uma "missão impossível"!
Modelos "roupas de festa" são muito elaborados, feitos com tecidos nobres e os acabamentos podem ser bem difíceis de fazer, como os bordados por exemplo. São roupas caras e difíceis de confeccionar. Por isso, muitas mulheres costumam alugar estas roupas.
Para as mulheres plus size é difícil encontrar estas roupas para comprar, para alugar ou encontrar uma costureira que possa faze-las. Resultado, uma legião de mulheres fica com uma demanda, tão especial como esta, não atendida.
A busca por vestidos de noiva também é um desafio para pessoas gordas (Crédito:tBoyan)
Mesmo quando encontram costureiras, mulheres plus size se sentem constrangidas durante o atendimento. Algumas vezes realmente não recebem um tratamento adequado. Acontece de serem ridicularizadas com piadas e comentários maldosos.
Muitas mulheres plus size têm a sensação de que não existe nenhuma loja com roupas do seu tamanho ou, que quando existem roupas em tamanhos grandes, não são bonitas.
Uma grande insatisfação destas mulheres é a dificuldade de encontrar a calça jeans "ideal". Esta peça tão necessária no guarda roupa de todas nós é quase impossível de ser feita em casa ou na sua costureira. A única opção é encontrar calças para comprar.
Sabemos que os lançamentos de tecidos jeans não podem ser comprados em lojas de tecidos. As confecções são homologadas pelas tecelagens de jeans para compra e confecção. Além das máquinas de costura especiais, as lavagens do jeans também são um processo industrial. O que nos leva de volta ao ponto que, se não houver oferta de calças jeans para compra, a demanda destas mulheres permanecerá não atendida.
Crédito:Ljupco
De tudo o que aprendemos com nossas pesquisas, entrevistas e com os depoimentos publicados aqui, os consumidores de moda plus size não querem disfarçar o excesso de peso! Querem destacar os pontos fortes da sua beleza e valorizar o seu corpo, como todos os outros consumidores.
Quem quiser explorar este mercado promissor, deve começar por considerar esta premissa. Criar um estilo sensual, atual, com forte identidade, aliado a modelagens competentes para fazer mais do que vestir bem, para valorizar o corpo. Tudo isso é indispensável para criar uma identidade de marca que conquiste e fidelize estas clientes com tantas demandas não atendidas.
E agora vamos aos números dos negócios de moda que pretendem atuar no mercado plus size.
"Os levantamentos realizados pela ABPS mostram que, nos últimos três anos, o mercado plus size cresceu 21%, mesmo período em que o setor de vestuário teve uma queda de mais de 5%."
A ABPS foi criada para estudar o mercado de plus size, depois que a ABRAVEST (Associação Brasileira do Vestuário) constatou o crescimento de importância deste mercado, com um faturamento 7 bilhões de reais em 2018, realizando crescimento, enquanto outros setores têxteis apontaram retração.
A liberdade de poder se vestir como quiser (Crédito:LeoPatrizi de iStok)
As informações e dados das Associações parecem bem animadores, mas a questão é: se esse mercado cresce tanto a cada ano, porque ainda tem tanta gente insatisfeita com as opções disponíveis?
Segundo nossas entrevistadas, as demandas não atendidas são tão grandes, que podemos comprova-la com o alto custo das peças. Alguns depoimentos sinalizam inclusive, a percepção de que os lojistas se aproveitariam do fato de existir poucas lojas vendendo numeração maior do que 50, para aumentar abusivamente o preço das roupas.
Mas porque a oferta permanece tão menor do que a procura?
Um dado importante que responde parte dessa pergunta é que, muitas marcas que se dizem plus size na realidade praticam a numeração entre 44 e 50. Acontece que a numeração plus size nas tabelas praticadas no mercado, começa no tamanho 50 e termina no tamanho 64, em alguns casos, no tamanho 68.
"A experiência da Modacad com numeração plus size para roupas funcionais que precisam garantir a mobilidade do usuário, como uniformes para indústrias ou fardas para o exército brasileiro, revelou que tamanhos plus size precisam coletar amostras de medidas com parâmetros mais completos do que as medidas tomadas para todos os outros tamanhos. Com medidas mais completas é possível fazer modelagens para roupas VV, isto é, roupas que vestem bem e por isso vendem bem.
Definimos internamente alguns parâmetros e coletamos novas medidas, para trabalhar com mais informações e ter mais assertividade nos resultados. Essa especificação, focada em nos mostrar a relação das medidas com os movimentos do trabalhador, nos levou a observar também novas informações nos alertando para a importância das diferenças das curvas desenhadas pelas proporções entre as medidas.
Simplificando, os tamanhos plus size não podem ser entendidos pelas medidas ditadas por uma tabela, aplicadas no trabalho de ampliação. A proporção entre estas medidas muda o desenho da modelagem, de forma que teremos desenhos bem diferentes para tamanhos parecidos. É um desafio que uma vez bem resolvido, vai ser um importante diferencial de uma empresa na assertividade nas vendas."
Atualmente podemos ver muitos influencers digitais e artistas que resolveram levantar essa bandeira e mostrar que todos os corpos são belos e devem sim ser mostrados. E graças a essa representatividade podemos ver cada vez mais pessoas gordas sem constrangimento de usar roupas de banho sem blusas largas cobrindo tudo, usando cropped, shorts, saias e vestidos mais curtos, enfim, usando as roupas que gostam, da forma como bem entendem.
Mas para que todas as pessoas plus size possam viver assim muitas coisas ainda precisam mudar. Negócios de moda praticando a numeração de tamanhos acima de 50, com estilo criado para a beleza plus size, modelagens competentes e tecidos tecnológicos é por onde tudo começa. E continua com o sucesso de vendas destes negócios, que causa a criação de novos negócios, trazendo a variedade de produtos que a demanda plus size merece. Moda casual, lingerie, moda praia, fitness, a moda festa e muito mais!
E quando este mercado estiver consolidado, com oferta e procura em equilíbrio, uma coisa muito importante vai acontecer. Os preços praticados poderão ser acessíveis aos diversos perfis de consumidores.
Quem estiver interessado em saber mais informações sobre as influencers plus size, indicamos que conheçam o blog Garotas FDP que aborda temas diversos como comportamento, moda e beleza; a influencer digital Dani Rudz que é palestrante e especialista em moda e mercado plus size; e Lu Santos que fala sobre positividade corporal. É uma ótima forma de conhecer o público consumidor plus size direto na fonte e saber mais sobre suas demandas.
Eventos Plus Size
Aqui em Belo Horizonte temos alguns eventos plus size. O mais famoso é o BH Estilo Plus, uma feira que reúne diversas marcas, além de promover talks sobre moda plus size.
Em São Paulo dois eventos Plus Size são bem famosos.
O FWPS Fashion Week Plus Size é o maior evento do Brasil. Tem um salão de negócios, desfiles, palestras sobre negócios, tendências para lojistas e influenciadores do setor, apresentação de lançamentos e de novas marcas.
O Pop Plus é uma feira de moda e cultura plus size que acontece quatro vezes por ano em São Paulo: março, junho, setembro e dezembro. Sua primeira edição foi em dezembro de 2012 com 9 expositores. Sua edição mais recente, em dezembro de 2019, contou com 90 expositores e um público de cerca de 13 mil pessoas.
Depoimentos
Algumas das mulheres com quem conversamos deram seu depoimento sobre as dificuldades que sentem ao comprar roupas e como isso as afeta. Confira:
Jailma Seleguini (Foto acervo pessoal)
Comprar roupa para obeso é complicado. Geralmente os lojistas acham que plus size é até 50 ou 52, mas as pessoas obesas geralmente vestem 56 ou 58 e é difícil encontrar esses tamanhos.
Eu, particularmente, não conseguia comprar roupas para mim. Além do preconceito das pessoas em relação a eu ser gorda, quando eu chegava nas lojas, antes mesmo de eu falar qualquer coisa com os vendedores, eles já olhavam com aquela cara de “o que é você está fazendo aqui?”.
E quando eu perguntava sobre uma roupa, os vendedores já falavam “mas não tem o seu número”. Nem sequer perguntavam se a roupa era um presente para alguém, ou se era para mim. Já me davam a resposta seca: "não tem o seu número".
Eu tinha que me contentar com roupas de lycra, que era o que dava para vestir. Outra opção era mandar fazer roupas em costureiras.
Agora, depois que emagreci 50 kg, consigo comprar roupa para mim, posso chegar em qualquer loja que tem roupa que me serve. Mas antes era muito difícil.
Jailma Seleguini Monteiro
Sheilla Natália (Foto acervo pessoal)
As maiores dificuldades que eu encontro na hora de comprar roupas plus size estão na modelagem. As opções de tamanho e o estilo das roups, que parecem roupas para idosos. É muito dificil encontrar uma roupa com estilo mais jovem. Quem veste tamanhos maiores é obrigado a usar roupas para pessoas mais velhas.
Em relação ao tamanho, o que me incomoda é o fato de que no Brasil, consideram Plus Size a numeração entre 44 e 48. Então encontrar os tamanhos 50 ou 52 é bem difícil.
Quem veste tamanhos maiores, como no meu caso, tem muita dificuldade de encontrar. Até mesmo as roupas íntimas.
Antigamente as Pernambucanas vendiam roupas íntimas em tamanhos maiores. Agora não encontro mais, eles tiraram esses tamanhos maiores de linha. Então para encontrar uma lingerie que seja confortável é uma dificuldade. Você tem que garimpar mesmo, indo de loja em loja.
Tem catálogos de muitas lojas com opções de modelos específicas para plus size, mas quando olho a numeração, ela só vai até 48.
É constrangedor, porque eu chego nas lojas para olhar roupas e as vendedoras já olham com cara feia, como quem diz: “se nada serve em você, o que é você está fazendo aqui?” “Você pertence a outro planeta! O que é que você está querendo aqui?”.
Então é assim que eu me sinto. Quando saio para comprar roupas, me sinto um ser de outro planeta! E penso mesmo, "o que é que eu estou fazendo nestas lojas"?
Sair para comprar roupa é muito dificil para mim. A última vez que eu comprei roupas foi na época do natal e ano novo e mesmo assim, relutando muito, porque eu mesma não queria comprar.
Mas minha mãe me obrigou dizendo que eu não tinha uma roupa pra passar as festas. Por mim eu poderia usar qualquer uma, porque o constrangimento que a gente passa na hora de comprar roupas é muito grande. Então é preferível você usar o que você tem ou ficar dentro de casa e não sair.
Muitas vezes já escutei, “pra que você vai sair? Você não tem roupa pra sair!”
Isso me incomoda muito, é muito ruim, isso machuca. As pessoas próximas acabam nos machucando. Essas coisas não acontecem só quando se está comprando roupa. A própria família sem perceber age com preconceito em relação a gente.
Eu não tenho problemas em usar roupas sem manga, mas eu não consigo encontrar. Então, me sinto limitada em relação a isso também. É dificil encontrar roupas aqui em Belo Horizonte.
Sheilla Natália
Rinalva (Foto acervo pessoal)
"Meu nome é Rinalva e tenho 56 anos. Sempre fui aquele padrão brasileiro de cintura fina, quadril largo, bastante seio e bumbum bem extravagante. Sempre fui assim, mas quando eu era solteira não tinha barriguinha, flancos e pneuzinhos.
Depois de engravidar três vezes, uma delas com mais de 40 anos, meu corpo modificou bastante. Hoje eu tenho uma barriga bem saliente. Mas mesmo antes, sempre estive acima do peso, desde novinha.
Eu nunca gostei de usar as roupas que me eram impostas. Por que a pessoa acima do peso tem aquela coisa de ter que usar chemise, roupa larga e eu queria andar na moda. Então eu comecei a fazer minhas próprias roupas.
Tenho muita dificuldade para comprar calças jeans, porque eu visto 50 para ficar confortável e este é um tamanho complicado.
Para poder usar roupas mais transadas, eu tenho o privilégio de poder fazer as minhas próprias roupas.
Minha filha caçula parece que também vai ficar com o corpo mais avantajado. Ela tem dificuldades para conseguir as roupas do jeito que ela quer. Ás vezes ela quer comprar em lojas de departamento e isso é impossível.
Então ela prefere que eu faça as roupas dela também, porque é complicado. Embora a moda plus size tenha vindo agora com força, muitas vezes o preço é elevado. E quando a gente encontra roupas com um preço melhor, geralmente são de baixa qualidade, então isso realmente se torna um problema."
Rinalva
"A minha dificuldade acho que é a mesma de todas nós, Gordelícias, encontrar roupas que nos vistam bem. Ontem mesmo estava namorando uns modelitos no Instagram e, como costuro também, tenho um olhar crítico para a coisa.
Minha dificuldade é achar jeans que me vista bem. Amo um jeans. Quando acho um que vista bem, é o olho da cara. Acho que o mercado aproveita muito das nossas dificuldades para encontrarmos roupas que nos vistam bem aumentando muito os preços."
Jacqueline
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Nós da equipe Modacad agradecemos o seu interesse pelo nosso trabalho aqui no blog e te convidamos para conhecer o appModacad com uma coleção de modelos com os moldes para o corte e costura.
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A gente se vê por lá!
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