Fashion Revolution - por que precisamos de uma revolução na moda?
Se a moda é um meio de cada um de nós se apresentar ao mundo, ela pode ser também um canal de reflexão sobre o mundo que estamos construindo? Qual o papel de cada consumidor na construção do mundo que queremos viver? Qual o poder de cada escolha de consumo sobre a urgência das mudanças?
O universo da moda é envolvente, glamouroso, mas também é marcado por uma história complexa e muita luta. Por outro lado, sabemos que individualmente a moda é expressão de emoções, da maneira como queremos nos apresentar e nos comunicar com o mundo.
Essas duas coisas juntas são o bastante para afirmar que a moda também é expressão de ideologias diversas, que resultam em comportamentos sociais, como os hábitos de consumo por exemplo. Por isso mesmo, seria a moda o canal de reflexão e questionamento desses comportamentos sociais e suas consequências no mundo? Qual seria o papel de cada um de nós nessa reflexão, já que somos os consumidores finais de tudo o que é produzido e vendido em todos os lugares?
Até chegar às lojas e depois, aos nossos guarda roupas, por quantos processos e caminhos cada peça de roupa passou? Quantas mãos estiveram envolvidas na produção e distribuição? Quais as condições de trabalho destas pessoas? Provavelmente você, eu e quase todo mundo não podemos responder a essas perguntas. Esse é um dos motivos do surgimento do Movimento Global Fashion Revolution.
Destroços do Edifício Rana Plaza(Animesh Biswas, Aminur Rahman, Saidur Rahman Mashreky, Tasnuva Humaira, Koustuv Dalal, CC BY 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by/4.0, via Wikimedia Commons)
O Fashion Revolution surgiu por causa do desabamento do Edifício Rana Plaza em Bangladesh em 2013, que abrigava diversas confecções de roupas, sem condições dignas de trabalho e de segurança para os trabalhadores. O desabamento causou mais de 1100 mortes e deixou cerca de 2500 pessoas feridas. Essa tragédia comoveu o mundo e levou as pessoas a refletirem sobre a importância de saber "como e quem fez" as roupas que elas usam diariamente. Em outras palavras, levou as pessoas a perceberem que suas ações têm consequências no mundo e na vida de outras pessoas, mesmo os hábitos mais corriqueiros do nosso cotidiano, como por exemplo, comprar uma peça de roupa.
Em 2014 foi feito o primeiro Fashion Revolution Day, que levanta exatamente essa questão: "Quem fez minhas roupas?". Comecei a participar como voluntária já em 2015 e hoje sou a representante oficial do Fashion Revolution em Belo Horizonte. Entre os objetivos do projeto está aumentar a conscientização sobre os impactos dos processos de produção no meio ambiente e na sociedade, além de disseminar a ideia de consumir moda de forma sustentável.
O processo de produção das matérias primas - fibras, tecido, estamparia e beneficiamentos, bem como a confecção das peças, a distribuição até a venda direta de cada peça de roupa, é desconhecido pela maior parte da população. Para haver reflexão e mudança, é necessário que as pessoas antes conheçam os processos e os problemas. Só assim esse novo conceito de consumo com qualidade, consciência e valorização do ser humano pode ser disseminado no mundo.
É muito importante divulgar que a indústria têxtil é a segunda indústria mais poluente do planeta. Cerca de 16% dos inseticidas do mundo são usados na produção do algodão. Apenas no Brasil, estima-se que sejam geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis e há dados que confirmam que 20% da poluição das águas no mundo é responsabilidade da indústria têxtil.
Atualmente a campanha do Fashion Revolution acontece em mais de 100 países e convida as pessoas a postarem fotos com suas roupas pelo avesso, com as etiquetas à mostra, acompanhadas de uma hashtag com o seguinte questionamento #whomademyclothes (#quemfezminhasroupas).
Inicialmente o evento Fashion Revolution ocorria sempre no dia 24 de abril, porém, a evolução da consciência da importância de disseminar e discutir os assuntos que envolvem a sustentabilidade, a moda ética e justa, o respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos, exigiram a instituição da Semana Fashion Revolution.
Muitas marcas brasileiras, inclusive algumas consideradas Fast Fashion, se engajaram e publicaram as fotos mostrando como funciona sua cadeia produtiva, acredito que o mercado percebeu a importância de ser justo e transparente com o seu público.
Fonte: arquivo pessoal
Telma Barcellos durante a Semana Fashion Revolution Belo Horizonte no Museu da Moda
A Modacad é uma das empresas que acreditam e apoiam o projeto Fashion Revolution. Na última semana, nossa CEO, Telma Barcellos fez parte da programação da Semana Fashion Revolution em Belo Horizonte. Ela ofereceu um workshop sobre Sustentabilidade e Rentabilidade mostrando que esta dupla pode andar junto.
Telma acredita que existem muitos recursos para construir modelos de negócio inovadores, sutentáveis e lucrativos. Uma das possibilidades apontadas por ela no workshop, foi a inclusão de "pessoas fora do padrão" no mercado da moda. Investir em modelagem e estilo para a produção de roupas que vistam bem os diferentes tipos de corpos pode ser uma ação bastante efetiva para conquistar mais rentabilidade, porque cria oferta para mercados ainda inexplorados, e mais sustentabilidade, porque o aumento das chances de vendas de uma roupa diminui o volume do descarte do que não é vendido.
Fonte: arquivo pessoal
Oficina Upcycling Jeans oferecida por Sarah Almeida no Fashion Revolution em Belo Horizonte
Além desse evento fixo, anual, o Fashion Revolution realiza ações durante todo o ano para valorizar a moda ética e sustentável, incentivar a produção e o consumo consciente, lutar contra os padrões de beleza excludentes e contra as péssimas condições de trabalho encontradas nesse mercado. Exemplo dessas ações são o Indíce de Transparência da Moda, lançado em outubro de 2019, e o Fórum Fashion Revolution, que abriu recentemente inscrições para sua segunda edição.
(Greensefa, CC BY 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by/2.0, via Wikimedia Commons)
O Fashion Revolution levanta outras bandeiras que abrangem áreas além da moda, como por exemplo as políticas de gênero, o feminismo e o uso da tecnologia a favor da revolução da moda. Uma das forças que me movem para trabalhar nessa “revolução da moda” é exatamente a paixão por levar para as pessoas uma nova concepção sobre moda e consumo. Incentivá-las a refletir sobre os impactos que simples ações podem gerar e, o principal, que através destas simples ações é possível ser e ver uma mudança real no mundo!
Fashion Revolution!
by Lívia Monteiro e Modacad
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