A linguagem do Grafismo e a Identidade Cultural Indígena
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A arte indígena é uma importante fonte de inspiração para o universo da moda e para o universo estético em geral, principalmente no Brasil. Podemos identifica-la nas artes plásticas, design de objetos e ambientes, além da sua presença mais forte ainda em acessórios e vestuário, na estamparia de tecidos e até na tecelagem têxtil.
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O grafismo pintado nos corpos indígenas, em seus trajes e utensílios marca a identidade de cada povo. Um determinado desenho na pintura corporal por exemplo, pode indicar a quantidade de filhos, a ocupação do indígena dentro de sua comunidade ou o cumprimento dos ritos de passagem. Os desenhos registram fatos e compartilham seus significados.
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A linguagem do grafismo também é usada nos acessórios (Crédito:Virginia Yunes/ Fonte: iStock)
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Além dos símbolos e desenhos do grafismo, adornos como penachos, cocares e colares também têm seu significado. E, claro, armas de caça e de guerra também podem conferir distinção social a cada indígena da sua comunidade.
Neste contexto é fundamental olhar para a linguagem gráfica e visual indígena além da sua beleza e atração sensual. Compreender seu significado e sua dialética é como aprender a ler e falar uma nova língua. Inclusive, esta compreensão engrandece o impacto da beleza visual de suas imagens tão ricas e coloridas em nossas emoções.
Atualmente no Brasil existem cerca de 225 povos indígenas conhecidos e 70 que vivem isoladas. Cada uma delas é rica em cultura, história e elementos interessantes e inspiradores.
Neste post vamos falar sobre o grafismo de povos indígenas brasileiros, as pinturas corporais e os elementos que compõem a identidade cultural de algumas delas.
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Indígena Guarani fazendo pintura corporal (Crédito:filipefrazao/ Fonte: iStock)
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Guarani
Os Guaranis são divididos em três grupos: Guarani Kaiowa, Guarani Ñandeva e Mbya. Esses grupos estão distribuidos em diversos estados do Brasil. Cada um deles tem dialetos e regras de convívio diferentes uns dos outros, porém existem similaridades em relação às lideranças, os grandes grupos familiares e as divisões das funções dos membros da comunidade. Apesar dos dialetos serem diferentes, eles pertencem a uma mesma família linguística, o tupi guarani, que deriva do tronco linguístico Macro Tupi.
Tradicionalmente os indígenas guaranis são caçadores e coletores. Eles acreditam que são uma extensão da terra onde pisam. Para eles a entidade Tupã os criou para admirarem a beleza da terra.
Dentro dos grafismos tupi guarani temos três desenhos que são as bases para todos os outros. São eles:
Ypara Korá
Os desenhos do Ypara Korá são baseados na pele das cobras. Costumam apresentar formas de losango e de quadrado. Esses símbolos significam acolhimento, ou seja, que as suas casas estão sempre disponíveis para acolher os parentes que vem de longe.
Ypara Jaxá
Os desenhos em linha reta do Ypara Jaxá assemelham-se a correntes.
Ypara Ixy
Os desenhos em zigue-zague do Ypara Ixy, por sua vez, assemelham-se ao movimento das cobras.
Pataxó
A grande maioria dos indígenas do povo Pataxó vive no sul da Bahia, no Parque Nacional do Monte Pascoal, próximo a Caraíva.
Os Pataxós são muito conhecidos por seus trabalhos artesanais, que são um símbolo de resistência de sua cultura, além de também ser uma das fontes de renda da comunidade indígena.
Eles não vivem mais em ocas, aderiram às casas de alvenaria e a maior parte dos indígenas desta comunidade já assimilou muitos costumes urbanos. No entanto eles buscam manter vivas a cultura e a história de seu povo, através da produção de sua arte e da preservação de alguns dos seus rituais.
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Indigenas do povo Pataxó com o grafismo em seus acessórios (Crédito:Joa_Souza/ Fonte: iStock)
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O povo Pataxó fala a língua maxakali(patxôhã), do tronco macro-jê. Falam português, mas alguns grupos falam principalmente seu idioma original na vida cotodiana.
Um dos costumes que os Pataxós conservam é o grafismo usado na pintura corporal. Essas pinturas, quando usadas em seus rituais sagrados, contam a história do seu povo.
Os grafismos são diferentes para cada tipo de situação, para as danças, para rituais sagrados como o casamento ou o nascimento de novos membros da comunidade, etc. Além disso, as pinturas também são específicas para cada parte do corpo.
Para os indígenas Pataxós, através do canto e da dança eles estabelecem a comunhão com a natureza, com as energias da terra, do fogo, da água e do ar.
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Maxakali
Os indígenas Maxakali vivem em sua grande maioria na região nordeste de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha.
Meu bisavô pertencia a esse povo e pesquisar sobre ela foi realmente interessante. Descobri que os costumes dos Maxakali incluem um certo tabu em relação à morte. É proíbido falar o nome das pessoas que já se foram, o que deve explicar o fato de não sabermos nada também sobre a vida de meu avô, já que ele faleceu quando seus filhos ainda eram muito novos e sua esposa não era indígena.
O termo Maxakali foi atribuído a esses povos por "não indígenas". Os membros da comunidade indígena se auto intitulam como 'Monacó bm'ou 'tikmũ'ũntikm'. A forma original de subsistência da comunidade era a agricultura e a caça. Atualmente também produzem artesanato.
Mesmo com cerca de 300 anos de contato com "não indígenas", a maior parte da comunidade indígena Maxakali não fala português. A língua maxakali pertence ao grupo linguístico Macro-Jê. Essa família de línguas é dividida em seis grupos distintos - Capashó, Cumanshó, Macuni, Mashacali, Monoshó e Panyamé.
Os Maxakali tem intensa atividade religiosa, realizada nos rituais de Yãmiyxop, que significa espírito. Durante os rituais, os Yãmiy, espíritos cantores, retornam à Terra para transmitir conhecimento aos homens. O conhecimento está nos cantos entoados pelos membros dos povos.
Os Yãmiy são xamãs e estão sempre com o corpo pintado e decorado, o que leva a crer que a pintura corporal para o povo Maxakali está relacionada com a espiritualidade, além de sua função como sistema de distinção social entre os integrantes da comunidade indígena.
A indumentária maxakali é bastante colorida e quase sempre estão presentes as cores intensas como o vermelho, amarelo, laranja, rosa-choque, verde e turquesa.
Os elementos gráficos mais freqüentes na pintura facial são traços, círculos e pontos, que juntos podem desenhar sóis nas bochechas ou na testa. O padrão mais regular é uma composição de três traços horizontais principais: um na altura dos olhos, outro sob as maçãs do rosto e o terceiro acompanhando a abertura da boca.
Huni Kuin - Kaxinawá
A expressão Huni Kuin significa 'O Povo Verdadeiro' é um dos nomes usados para o povo Kaxinawá, uma etnia indígena sul-americana, pertencente à família linguística Pano.
O povo Kaxinawá vive no estado do Acre nas áreas indígenas do Alto Rio Purus, do Igarapé do Caucho, Katukina, Kaxinawá da Colônia 27, Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawá do Rio Jordão, Kaxinawá Nova Olinda, Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu e Terra Indígena Praia do Carapanã, além das regiões de floresta tropical do leste peruano.
Essa comunidade indígena se subdivide em dois grupos linguísticos, o Arawak e o Pano. Os Kaxinawá acreditam que a terra é de todos. As famílias são chefiadas pelos homens e eles fazem suas plantações para que toda a comunidade possa usufruir.
As atividades são divididas por gênero e idade. Entre elas se destacam a tecelagem em algodão, tingimento natural dos tecidos que produzem e a cerâmica onde são impressos os kenês, feita em argila de cinzas obtidas de animais, árvores e ainda de cacos de outras cerâmicas. Os Kenês são as marcas que identificam a o artesanato produzido pelos Kaxinawá que representa a coragem, força, poder e sabedoria desse povo.
Apenas as mulheres podem fazer a pintura corporal com jenipapo. Elas pintam o grafismo que é conhecido como Kene Kuin - o desenho verdadeiro. Esse desenho é considerado por eles como um adereço de beleza para as pessoas e para os objetos.
O artesanato é uma das principais fontes de renda dos Kaxinawá. A arte deles chama a atenção pelo belíssimo design e é bastante famosa em todo o Brasil.
As figuras do pajé e dos líderes da comunidade são as figuras mais importantes para os Kaxinawá. Essa comunidade conseguiu manter viva a maior parte de suas tradições e preserva seus rituais sagrados.
Eles acreditam no Yuxin, a força vital da natureza e na visão que eles têm do mundo. Eles acreditam que os animais também são parte de seu povo e que transmitem seus saberes, como por exemplo, o saber do esquilo, que ensinou o homem a plantar. E é o Yuxin que escolhe quem pode se tornar xamã, os Kaxinawá apenas estão a serviço da natureza.
O xamanismo define o modo de vida dos Kaxinawá. Mas diferente de grande parte dos povos amazônicos, que mantêm os rituais sagrados apenas para a comunidade, a prática do xamanismo Kaxinawá é compartilhada também com pessoas que não são membros da comunidade.
Um dos exemplos disso é o ritual do chá de Ayahuasca, que é uma das fontes de força e autoconhecimento desse povo. Alguns Kaxinawá viajam para outras cidades e até para outros estados para realizar esses rituais com grupos simpatizantes da prática do xamanismo.
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Leia também nosso primeiro post desta série sobre cultura indígena - Influências Indígenas na Moda.
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