Marcas de moda afro-brasileira e lugar de fala

(Foto de capa-Crédito: valentinrussanov/istock)

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Terminamos o texto anterior desta série de cultura africana anunciando que este texto vai listar marcas brasileiras de moda afro que estão se destacando no mercado e apresentar alguns dos principais ativistas afro que lutam por igualdade racial e social na moda e também em outras formas de cultura e arte.

Nesta lista das marcas brasileiras de moda afro, estão incluídas é claro, algumas das marcas que fizeram parte do projeto Sankofa do SPFW edição N51, realizada entre os dias 23 e 27 de junho deste ano de 2021.

Artesanato das Preta

A empreendedora criativa Tatiana dos Santos, mais conhecida como Taty, começou a empreender em 2016, quando saiu de um trabalho formal onde havia permanecido por mais de 10 anos.

Inicialmente ela produzia brincos em mdf com temática afro, como as palavras 'preta' e 'crespa', com a intenção de fortalecer a autoestima das mulheres negras.

Com o sucesso de sua iniciativa, Taty criou novos temas e foi ampliando a sua linha de acessórios. Atualmente, além dos brincos, ela também vende colares e pulseiras.

As criações Artesanato das Preta misturam metais com elementos de natureza orgânica como sementes e madeira por exemplo.

Brincos Oxum do Artesanato das Preta (Reprodução Instagram @artesanatodaspreta)

Muitos brincos, colares, pulseiras ou conjuntos recebem o nome de alguma mulher negra que marcou a história ou o nome de alguma representação feminina que faça parte da cultura afro.

Dois lindos exemplos disso são os brincos Oxum, dourados e adornados com búzios, uma homenagem a este Orixá feminino da Umbanda, e o exuberante conjunto de colar e brincos que leva o nome da quilombola Felipa Maria Aranha.

O quilombo organizado por ela na segunda metade do século XVII, existe até hoje no estado do Pará. Se chama quilombo do Mola ou Itapocu inicialmente era formado por trezentos escravos que conseguiram escapar do cativeiro naquela época.

Taty declara que seu objetivo é fazer diferença na vida das pessoas!

Faz isso continuando seu trabalho para aumentar a autoestima das pessoas pretas e valorizando a história e a cultura afrobrasileira, homenageando seus símbolos e significados através da sua arte.

Rainha Nagô

A Rainha Nagô é uma marca que foi criada pelos estilistas Camila Oliveira e Diego Soares, em 2014, quando a dupla encarou a verdade de que a indústria da moda ainda não incluía seus corpos plus size.

A partir dessa conclusão, decidiram criar sua própria marca, começando por investir em cursos para capacitação profissional da dupla na área de moda.

(Crédito: Site Rainha Nagô)

Em 2018, Diego que é formado em arquitetura e urbanismo, também se especializou com cursos técnicos na área de moda e o reflexo de toda essa trajetória resulta em uma marca que evidencia as potencialidades e a beleza dos corpos plus size.

Apesar do foco principal da marca ser a moda plus size, o nome, as estampas e o estilo da Rainha Nagô são de inspiração africana. Além disso os modelos que divulgam suas roupas nos editoriais são todos negros.

Afropolitan

O Afropolitan Station é um espaço colaborativo localizado no centro de São Paulo, fundado pela empreendedora Elida Monteiro, que reúne grifes criadas e serviços prestados exclusivamente por afroempreendedores.

A loja reúne mais de 50 marcas e a grande maioria delas é liderada por mulheres.

(Crédito: Site Afropolitan)

No Afropolitan Station encontramos diferentes tipos e tamanhos de capulanas, de roupas estampadas com batique, entre uma grande variedade de modelos e acessórios todos inspirados nas tradições e temas culturais africanos e afrobrasileiros.

Projeto Sankofa

Ateliê Mão de Mãe

O Ateliê Mão de Mãe é uma marca que nasceu em março de 2020, criada pelo casal Vinícius Santana e Patrick Fortuna no estado da Bahia. Com modelos feitos em crochê pela artesã Luciene Santana, mãe de Vinícius, o ateliê desfilou suas criações no Projeto Sankofa, edição N51 da SPFW.

Video Ateliê Mão de Mãe (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

A coleção atual tem biquinis, vestidos, macaquinho e camisas de tecido com apliques de crochê, búzios e conchas. A cartela de cores dos lançamentos da marca veio em tons neutros de terrosos entre o marrom e bege.

Meninos Rei

A marca Meninos Rei foi criada em 2014, pelos irmãos Céu Rocha e Junior Rocha. No Projeto Sankofa, edição N51 da SPFW, os irmão desfilaram uma coleção exuberante inspirada em Exu, o Orixá da comunicação e dos caminhos abertos.

A coleção foi batizada com a expressão "Yorubá L’oju Esú", que em português significa 'Aos Olhos de Exu'.

Video Meninos Rei (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

Cores alegres e estampas africanas são a principal marca dos modelos. Alguns foram feitos de patchwork e os tecidos da coleção foram importados da Guiné-Bissau.

A coleção "Yorubá L’oju Esú" tem calças, camisas, croppeds, blazers e macacões, além de acessórios feitos com contas coloridas e metais dourados.

AZ Marias

A marca AZ Marias foi fundada pela estilista e diretora criativa Cíntia Maria Félix. Ela se inspirou nas mulheres de sua família e em personagens femininas importantes da história africana e afrobrasileira.

O tema da sua última coleção foi a guerreira "Nzinga a Mbande", rainha do "Ndongo" em um período do sec XVII, na região que hoje é ocupada pela Angola.

Video AZ Marias (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

Nzinga a Mbande é um símblo de heroismo e resistência ao colonialismo português na luta contra a escravização do seu povo durante o seu reinado.

Na coleção AZ Maria apresentada no Projeto Sankofa, edição N51 da SPFW, uma jaqueta e botons foram estampados com a figura da rainha guerreira "Nzinga".

Alguns modelos em tecido branco foram estampados com símbolos adinkras e outros, feitos em patchwork, estilizam padronagens africanas.

Naya Violeta

A grife Naya Violeta, criada em 2007 na cidade de Goiânia, leva o nome de sua criadora.

A coleção Foguete, que celebra a vida por meio da festividade do fogo, também foi apresentada no Projeto Sankofa no SPFW edição N51.

Video Naya Violeta (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

Com temas marcantes como o Candomblé e a dança africana Ginga, os modelos provocam a ideia de ancestralidade que conversa bem com tecidos, cores e estampas orgânicas.

Tudo isso poderia ter um toque aconchegante, quase descontraído, se não fosse o impacto de realeza da beleza de seus acessórios, assinados por Dani Guirra.

São anéis e pulseiras do metal de cobre dourado, que aparece também nas tiaras e colares misturados com elementos de madrepérola e miçangas, finalizando com as tiaras de fios retorcidos deste metal e os apliques dourados de drags, que nos remetem à ideia de coroas de reis e rainhas.

O casamento perfeito da elegância despojada com a distinção majestosa.

Telma Barcellos

As estampas dos tecidos e os bordados das roupas também são assinados por Dani Guirra.

Santa Resistência

Em 2015, a engenheira elétrica Mônica Sampaio deixou sua carreira de lado para investir em seu sonho de trabalhar com moda, lançando a marca Santa Resistência.

A marca tem em seu DNA o conceito slow fashion e cria roupas atemporais, confeccionadas em uma linha de produção justa e consciente.

Os temas das coleções sempre falam de fatos históricos e cultura africana. Outra marca da Santa Resistência é a modelagem desenhada para garantir conforto.

Para criar a coleção apresentada no Projeto Sankofa do SPFW edição N51, Mônica se inspirou no pioneirismo e independência da marcante história da princesa Elizabeth de Toro.

Video Santa Resistência (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

A princesa nascida em Uganda marcou a história consolidando uma carreira de sucesso como modelo nos Estados Unidos e tornando-se a primeira africana a estrelar uma capa da Harper’s Bazaar.

A princesa Elizabeth foi também ministra das Relações Exteriores em Uganda, além de representar seu país como embaixadora da ONU. Ela ainda é viva e tem hoje 85 anos de idade.

As túnicas e os vestidos da label são a personificação do luxo da trajetória desta persona que é o seu tema. Os tecidos dos modelos são estampados com temas africanos nobres como a imagem estilizada de peles de animais e coloridos com cores elegantes como o dourado fosco do ouro in natura.

“Na Santa Resistência, acreditamos que nosso papel vai além de ser uma marca de moda. A nossa intenção é ser um veículo de pertencimento e de acolhimento no vestir"
Mônica Sampaio

Mile Lab

A Mile Lab é uma empresa fundada em 2017, pela estilista e diretora criativa Milena Lima. Para ela as roupas são como um elo de transformação social.

Na coleção Baobá, desfilada no Projeto Sankofa do SPFW edição N51, a marca apresenta camadas volumosas de babados e rendas.

Video Mile Lab (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

A ideia era criar um diálogo entre a identidade negra periférica e a moda de luxo. O resultado foi a criação de modelos exuberantes, dignos da alta costura, porém feitos com tecidos simples, de aspecto rústico, como o algodão cru por exemplo.

TA Studios

A TA Studios foi criada pela estilista Gisele Caldas em 2013. O DNA dos modelos criados pela marca é a moda agênero, consciente e afrofuturista.

Video TA Studios (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

A coleção Adinkra da TA Studios desfilada no Projeto Sankofa do SPFW edição N51 mistura a estampa dos símbolos Adinkra da nação africana Ashanti, com modelos inspirados nas roupas étnicas da cultura Yorubá.

Dois adinkras se destacam entre as estampas: o Akoma Ntoaso, com forma de “cruz coração”, e o Bese Saka em formato de flor. As cores usadas nos modelos são inspiradas nas oferendas deixadas na beira dos rios.

Silvério

O estilista Rafael Silvério, que já foi stylist de celebridades como a cantora Karol Conká, estreiou no no Projeto Sankofa do SPFW edição N51 com a grife que leva o seu sobrenome.

Video Silvério (Crédito: Reprodução youtube SPFW/Projeto Sankofa)

A coleção da Silvério surpreendeu por ser monocromática. Com modelos look total preto, o destaque fica na mistura de texturas com os fortes contrastes entre o leve e o pesado e entre as opacidades e as transparências dos tecidos e malhas das peças que compunham os looks apresentados.

Em poucos acessórios e peças de roupas, detalhes minimalistas em cores claríssimas como o rosa pálido e o branco criam a ilusão de pequenas frestas na escuridão, por onde a luz escapa com toda a sua força.

Telma Barcellos

A ideia do estilista era que a coleção provocasse nas pessoas a reflexão sobre o sombrio, mas também a reflexão de que está na escuridão o lugar onde nasce a luz.

Ativistas de movimentos negros

Conceição Evaristo

Escritora e professora, Conceição Evaristo é um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. Sua militância no movimento negro está em toda a sua obra de belíssimos poemas, histórias e ensaios.

De origem humilde, a escritora começou a trabalhar como empregada doméstica aos oito anos de idade e teve que lutar muito para construir a sua história.

A escritora Conceição Evaristo durante debate no Festival Latinidades 2013 (Crédito:Fora do Eixo -CC BY-SA 2.0)

Com muita determinação e dedicação se formou em Letras, com Mestrado e Doutorado. Em sua carreira acadêmica lecionou em escolas, universidades e foi pesquisadora protagonizando um pioneirismo no lugar de fala dos negros na educação brasileira.

Conceição Evaristo é uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil.

Mineira, nascida em Belo Horizonte, em 2018 Conceição foi a ganhadora do Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais.

Djamila Ribeiro

Djamila Ribeiro é jornalista, feminista, ativista do movimento negro e militante também pelos direitos humanos.

Mestre em filosofia política, Djamila conta que herdou do pai o desejo de lutar por uma sociedade mais justa. Seu pai, apesar de não ter estudado política como ela, sempre foi um militante comunista e levava Djamila e seus irmãos a atos políticos desde que eles eram crianças.

Em sua militância Djamila ocupou cargos públicos e já foi secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo em 2016.

Djamila Ribeiro . Foto: Jose Roberto Comodo - Agenzia Riguardare. 29 nov. 2016. Shopping VillaLobos. (Crédito: TEDxSaoPaulo CC BY 2.0)

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Por sua trajetória de conquistas e avanços para as causas da militância, Djamila ficou muito conhecida e conceituada. Mais recentemente, com o apoio de influencers digitais que cederam espaço para a sua militância em blogs já consagrados, sua militância ficou reconhecida por milhões de brasileiros.

Djamila é autora dos livros 'Lugar de Fala', 'Pequeno Manual Anti Racista' e 'Quem tem medo do feminismo negro?'.

Atualmente é colaboradora da plataforma Feminismos Plurais, colunista do jornal Folha de São Paulo e da revista Elle.

Preta Rara

A rapper e arte-educadora Joyce Fernandes se tornou Preta Rara em 2009. Adotou como nome artístico o apelido que ganhou da mãe por gostar de coisas “diferentes” das outras meninas. Por gostar de jogar futebol, de escalar muros e de escrever rimas.

Na sua luta contra a subalternização das empregadas domésticas, Preta Rara criou em 2016 a página de Facebook "Eu, empregada doméstica" para compartilhar relatos de vítimas de abusos, com foco na racialização, desta relação de trabalho que é uma injustiça social institucionalizada na nossa sociedade.

Joyce Fernandes, também conhecida como Preta Rara (Crédito: Juh Guedes/Talita Fernandes - Obra própria - CC BY-SA 4.0)

Esta página do Facebook deu origem a um livro publicado em 2019.

O seu trabalho contra o preconceito abrange também as questões de corpo. Preta Rara também é uma ativista contra a discriminação de mulheres gordas.

Triscila Oliveira - SoulAnja

No perfil de instagram @afemme1, a ativista e escritora Triscila Oliveira fala sobre política, feminismo negro, direitos humanos e saúde emocional, colocando sempre em discussão os temas centrais raça, classes sociais e gênero.

Neste trabalho, Triscila dialoga o Instagram com posts do Twitter, integrando o público das duas plataformas.

Outro trabalho seu que já é bem conhecido são os quadrinhos que ela escreve em parceria com o ilustrador Leandro Assis.

Triscila Oliveira em um registro de suas redes sociais (Crédito: Twitter Triscila Oliveira)

As tiras também falam dos temas de racismo, desigualdade social e política em suas críticas à sociedade, denunciando com especial destaque o abismo entre as classes sociais no nosso país.

Um dos maiores sucessos desta parceria é a série Confinada, que critica os consagrados comportamentos sociais inaceitáveis e hipócritas, tão predominantes nos mais ricos da sociedade brasileira, criticando seus cotidianos abusos em relação às classes mais baixas.

Triscilla em diversas ocasiões escreve textos sobre práticas abusivas de "personas sociais" que podemos testemunhar no comportamento de influencers na vida do dia a dia, em tempo real.

Basta procurar no Youtube as inadequadas festas e ostentações feitas por estas pessoas durante as fases críticas da pandemia, bem como seus "pedidos de desculpas", que só reforçam ainda mais os mesmos discursos deste tipo de mentalidade lamentável.

Gostou do nosso texto "Marcas de moda afro e ativistas negros"?

Confira também os primeiros textos da série "Moda Afro - a influencia cultural africana na moda brasileira" , "Tecidos, cores e estampas das roupas africanas" "Tecidos africanos tradicionais para coleções de moda afro" e Acessórios e roupas étnicas africanas.

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