Moda e Crises #1 - o que podemos aprender com o passado

O isolamento social em escala global é um evento histórico com sérias consequências para a civilização humana, em todas as culturas do planeta. É um fenômeno jamais visto.

As preocupações mais imediatas dos governos, das organizações internacionais, das academias e dos intelectuais tratam da economia e da saúde pública, porque precisamos de respostas rápidas e pontuais para conter as consequências mais trágicas da pandemia na vida das pessoas.

Mas as mudanças culturais, que mostram o surgimento de novos valores e o desparecimento de valores arraigados a muitas décadas, têm uma importância crucial e muito mais profunda para todos nós porque afetam todas as áreas da vida humana.

O uso obrigatório de máscaras e novos comportamentos como a imposição da interação digital fazem deste momento um evento histórico importante (Crédito:MesquitaFMS/iStock)

São as mudanças culturais que apontam como a vida social vai se reestruturar daqui para frente, em todas as áreas, incluindo a economia e a saúde pública.

Partindo da premissa de que a Moda é uma manifestação dinâmica de cultura, tão ligada aos acontecimentos quanto o próprio jornalismo, a Moda é um vetor que registra em sua história muitas informações valiosas para enfrentarmos este momento. Para enfrentarmos os desafios contidos em mudanças tão profundas, acontecendo em um período de tempo tão curto, em uma quantidade tão grande.

A ideia primeira desta série de artigos era investigar as mudanças na Moda causadas por eventos históricos de profundas crises para a civilização humana, como por exemplo, a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial.

Mas as pesquisas apontaram primeiro uma reflexão muito valiosa sobre a grande mudança cultural que aconteceu antes destes três eventos, nos últimos anos do século XIX e na primeira década do século XX.

É incrível a semelhança com a nossa situação histórica atual.

É incrível como nos mostra as contradições entre aquilo em que estamos mais inclinados a acreditar e o que realmente acontece.

Como nos mostra, por exemplo, que os autores de importantes mudanças nesta primeira década do século XX não foram os mais capazes de sobreviver ao caos que, logo depois, mudou o mundo da noite para o dia.

O que podemos aprender com o passado?

O que muda nos últimos anos do século XIX

O início do século XIX assiste à disseminação da mecanização de vários processos produtivos, incluindo a tecelagem, quando a energia hidráulica foi aos poucos substituída pela energia a vapor.

Isso tem um impacto muito grande no estilo de vida humano e quando a energia a vapor começa a movimentar as locomotivas, uma "velocidade" sem precedentes alavanca ainda mais todas estas mudanças.

Mas o processo que culmina na consolidação de uma pujante classe média, que gera novos comportamentos e cultua novos valores, é progressivo e se dá ao longo de todas as décadas deste século.

Só na última década do século XIX, fica evidente a quebra de sistemas de valores e de comportamento social antigos, que não correspondiam mais à dinâmica da vida das pessoas.

O uso de espartilho, por exemplo, consolidado por séculos, é abandonado não por uma demanda feminina, ou pela criatividade dos estilistas. Precisamos entender que este evento é resultado da mudança da participação da mulher na vida social urbana.

Os trajes femininos no final do século XIX começaram a se tornar mais práticos e despojados (Crédito:duncan1890/iStock)

O comportamento das mulheres da burguesia exigiu um modo de vestir mais funcional, porque a esta altura, as mulheres já haviam consolidado um papel social muito mais dinâmico do que aquele comportamento social próprio das mulheres da nobreza.

Cada vez mais mulheres recebiam educação superior e profissional. Cada vez mais mulheres trabalhavam em funções qualificadas, praticavam esportes em público e cada vez mais mulheres já estavam reivindicando direitos sociais e políticos.

Aqui começa a nossa reflexão.

A Moda nos últimos anos do século XIX e na primeira década do século XX

Estilistas como Charles Frederick Worth, Jacques Doucet e Jeanne Paquin, que abriram suas "Maisons" de moda ainda no século XIX, mesmo diante desta efervescência cultural, continuaram sua trajetória na primeira década do século XX guiados pela sensibilidade do Modernismo, cujo ideal de beleza era uma combinação de elegância e opulência.

Vestido do estilista Charles Frederick Worth (Crédito:Elisa.rolle/Wikicommons)

Continuaram a cultuar a artificial silhueta feminina em S que exigia o uso de espartilhos e a opulência do luxo de suas criações era tão inadequada para o desempenho funcional de uma roupa, que as mulheres só as usavam em público.

Em todos os outros eventos da vida cotidiana, as mulheres usavam os "vestidos de tarde", de volume mais solto, feitos para serem usados sem o limitante espartilho.

Vestido de baile do estilista Jacques Doucet, 1898-1900 (Crédito: Wiki commons)

É neste contexto que surge o estilista Paul Poiret, criando modelos de alta costura sem o espartilho. Apesar desta conquista de comportamento ter sido muito importante para as mulheres, seu estilo era ousado por muitas outras qualidades!

Segundo sua biografia, seus desenhos não surgiram de um desejo de libertar as mulheres, mas sim de uma apaixonada busca por novas formas de beleza.

Se é assim, porque sua inspiração escolheu justo este caminho, que acertou em cheio o desejo coletivo naquele momento?

Podemos supor que, mesmo em diferentes épocas, o desejo exerce atração sobre a beleza e vice versa. Andamos na frente quando podemos fazer mais do que sentir "no ar" os desejos do momento e procuramos identifica-los não é mesmo? Mas isto é uma outra história.

O fato é que esta busca por novas formas de beleza levou Paul Poiret a se interessar por culturas distantes da conhecida história europeia. É assim que ele inicia a trajetória do seu estilo tão inovador, criando novos volumes em seus modelos, ousando nas cores e inovando nos temas de inspiração das suas coleções.

Seus modelos e acessórios foram criados com inspirações no "helenismo", no "orientalismo", experimentaram a influência russa por causa do "debut" do majestoso Ballet Russo na França em 1.909, através do quê, chegaram também até à inspiração do "japonismo", literalmente do outro lado do mundo.

Um modelo de quimono criado por Paul Poiret (Crédito: Wikicommons)

Inspirado no japonismo, Poiret desenha o primeiro modelo de uma releitura ocidental do quimono. O casaco, que teve uma rejeição muito forte em um primeiro momento, aparece na coleção seguinte em variadas versões nas outras maisons de moda em Paris. E ao longo de algumas décadas, o quimono deixa de ser uma peça exótica da moda feminina, para entrar de vez no guarda roupa de homens, mulheres e crianças de todas as idades. Sua utilidade é tão variada, que está presente até os nossos dias na produção de artigos esportivos, lingerie ou moda casual.

Entre seus modelos de inspiração no "orientalismo", Paul Poiret desenhou a "calça odalisca", que representou uma nova façanha nos costumes da época.

Ele trouxe a calça para o guarda roupa feminino ocidental, quando as antigas tradições ainda não estavam completamente abandonadas. Esta ousadia gerou uma inflamada polêmica e iniciou mais uma importante conquista de libertação de costumes para as mulheres.

A histórica Calça Odalisca criada por Paul Poiret (Wikimedia Commons |Criador: PHOTO)

Pelo visto, também pode ter causado inadvertidamente mais esta revolução de comportamento. Mas o fato é que este modelo de calça inicia a história da calça feminina na sociedade ocidental, que anda lado a lado com a história das conquistas da autonomia das mulheres.

Eu particularmente, sou apaixonada por seu trabalho e por sua visão de mundo. Sua marca é a ousadia e foi inovadora em vários aspectos, além do seu estilo super original.

Um exemplo muito importante de sua criatividade além da criação de moda é que Paul Poiret foi o primeiro estilista a criar um perfume para a sua maison, inaugurando uma das tradições mais consolidas das grandes marcas de moda do mundo. O mercado de perfumes com a identidade de uma marca é tão lucrativo, que em muitos casos, supera o faturamento das próprias coleções.

Mas é quando falamos do marketing que nasceu das iniciativas de Paul Poiret e foi se tornando uma prática consolidada no mercado a partir daquela época, que podemos começar a fazer um paralelo entre as semelhanças daquele momento, com o momento que estamos vivendo hoje.

No entanto, antes de prosseguir é preciso fazer justiça a pelo menos alguns estilistas, entre muitos, que no mesmo período também tiveram a ousadia de aderir à criação e confecção de modelos que dispensavam o uso de espartilhos, criando estilos autorais cheios de originalidade.

Alguns deles são:

  • Callot Soeurs, contemporâneo de Paul Poiret em Paris, cujo estilo de influência orientalista é belíssimo e atemporal! Eu adoraria poder usar seus modelos em pleno século XXI!
Vestido do estilista Callot Soeurs (Crédito: Kristine/Flickr)
  • Mariano Fortuny, espanhol de nascimento, com seus vestidos "Delphos", cuja beleza, sensualidade e funcionalidade também são atemporais. Os vestidos eram confeccionados em tecidos delicados e fluidos, plissados com pregas minúsculas, que refratavam a cor conforme o movimento.
Vestido Delphos de Mariano Fortuny e Madrazo (Crédito: Wikimedia Commons)

Essas sutis mudanças no brilho e na cor do tecido também insinuavam as formas do corpo dentro do vestido porque denunciavam cada movimento. Adoro a força de uma sensualidade sugerida, não explícita.

  • Estúdio de design industrial Wiener Werkstätte, com Josef Hoffmann entre os fundadores, que criou também um departamento de moda com uma linha própria.

Semelhanças entre a primeira década do século XX e a segunda década do século XXI

Para mim, o ponto fundamental que se destaca entre estas semelhanças são as mudanças no mercado de trabalho no início do século XX, causadas pela mecanização de muitos processos produtivos ao longo do século XIX, e estas mesmas mudanças causadas pela massificação da digitalização dos processos produtivos ocorrida na segunda década do século XXI.

Processo produtivo mecanizado no início do século XX (Crédito:clu/iStock)

A mecanização, cuja progressão se deu ao longo de todas as décadas do século XIX, destruiu muitos postos de trabalho antes de consolidar as novas oportunidades de trabalho que esta mecanização iria abrir. O desalento já era uma realidade concreta na primeira década do século XX e ainda não era possível vislumbrar o caminho logo à frente.

Na segunda década do século XXI, vivemos esta mesma realidade diante da massificação da digitalização dos processos produtivos, que levou apenas algumas décadas para se realizar. Sendo que as consequências no mercado de trabalho são acentuadas por alguns fatores, dos quais destaco dois como os principais.

Primeiro, a digitalização tornou viável a robotização das linhas de produção nas indústrias, levando ao extremo a mecanização porque prescinde da mão de obra humana completamente.

Segundo, a digitalização foi capaz também de otimizar o trabalho intelectual de forma a prescindir da mão de obra humana em muitas etapas de vários trabalhos e serviços. Com a evolução da AI - Inteligência Artificial, as perspectivas são de que a substituição do trabalho humano seja cada vez maior, em espaços de tempo cada vez mais curtos.

E quando ainda estávamos atônitos com esta realidade, correndo atrás de manter atualizadas nossas habilidades de trabalho digital, veio um desafio muito maior e mais avassalador, a pandemia mundial da Covid 19.

Estamos vivendo em um mundo digital (Crédito: clu/iStock)

E também nisso nossos antepassados vivendo na primeira década do século XX experimentaram a mesma realidade ao enfrentar logo na década seguinte, a tragédia humana da Primeira Guerra Mundial.

Mas outras semelhanças são muito importantes do ponto de vista mais específico dos Negócios de Moda.

Logo nos primeiros anos do século XX, os meios de comunicação que difundiam informações sobre a moda expandiram demais seu alcance de divulgação. As revistas de moda já existiam a bastante tempo, mas fatores como a velocidade dos meios de distribuição e o início do uso de ilustrações para exibir os modelos produziram um fenômeno de comunicação de grande impacto que mudou tudo.

A dimensão deste impacto da comunicação pode ser compreendida pelo volume de compradores e jornalistas de moda estrangeiros que invade Paris nos primeiros anos do século XX em busca de suas desejadas criações.

Este fenômeno foi tão intenso que em 1910 foi fundada "la Chambre Syndicale de la Couture Parisiense", cujo objetivo era controlar a programação das coleções e evitar o comércio de imitações ou de mercadorias não autorizadas. Sim, esta é a câmara sindical que ainda hoje, na terceira década do século XXI, exerce este mesmo controle e é o órgão oficial da França que confere os títulos às "Maisons de Haute Couture" na França e no mundo.

Ilustração do catálogo "Les Robes de Paul Poiret by Paul Iribe" (Crédito: Double-M/ Flickr)

Neste contexto, Paul Poiret é o primeiro estilista a criar um catálogo de moda para divulgar individualmente suas coleções, contratando os profissionais da área que ilustravam modelos para a melhor revista de Paris. Editou e publicou "Les Robes de Paul Poiret by Paul Iribe" em 1908 e "Les Choses de Paul Poiret" em 1911, ilustrado por Georges Lepape.

O paralelo deste evento histórico na segunda década do século XXI é o fenômeno da popularização da internet, ainda antes do começo da pandemia. A internet já existia a mais de duas décadas. No Brasil ela entra em operação em agosto de 1.995.

Mas fenômenos como a conectividade via mobile a partir de 2.013, multiplicaram o número de pessoas conectadas em uma velocidade muito acima do que a prevista por analistas de diversas áreas. Nesse ponto o Brasil merece um destaque, porque aqui esse crescimento foi um dos maiores do mundo, em um curto período de tempo.

Outro fator muito importante foi a revolução na divulgação de imagens bem parecida com aquela da primeira década do século XX, realizada pela evolução tecnológica que causou o aumento exponencial do volume de tráfego de dados.

Se antes de 2.015 o simples tráfego de fotos exigia uma conexão estável e de velocidade máxima, inacessível em certos locais ou circunstâncias nos celulares, os vídeos então, precisavam ser compactados em arquivos de dados para envio. Por isso, sua exibição ainda ficava restrita à visualização offline em computadores ou à divulgação pelos canais da mídia tradicional.

Com o aumento exponencial do volume de tráfego de dados, pouquíssimo tempo depois os vídeos eram produzidos, distribuídos e vistos nos celulares, além de serem divulgados em redes sociais livremente.

Neste contexto, o que foi criado com estes novos recursos, como fez Poiret com os novos recursos nos primeiros anos do século XX?

Resumindo muito, eventos, que classifico como uma evolução do que já existia, são os sites interativos, o fato de o e-commerce tornar-se uma prática acessível a empresas de todos os portes e as redes sociais se transformarem em mídias de marketing para o mercado.

Atividades virtuais são indispensáveis no nosso dia a dia (Crédito:sefa ozel/iStock)

Nos eventos que podemos classificar como criações de novas práticas estão os market places multimarcas, os aplicativos interativos com os usuários e a gameficação em multi áreas e funções fora do entretenimento.

Estas novidades abrem muitas portas para a realidade aumentada que busca a experiência digital tão realista como a experiência presencial e, por outro lado, abre as portas para a prática do ominichannel, com seus aplicativos que trabalham no caminho oposto, isto é, beneficiar a interatividade do usuário digital com a experiência presencial.

Ponto de inflexão desta reflexão

Até o final de 2.019, este cenário tem mais uma forte semelhança com os primeiros anos do século XX. Depois de duas décadas e meia da revolução digital, uma nova dinâmica social já está consolidada, mas ainda não sabemos como visualizar com clareza a diversidade de seus comportamentos e valores.

Ainda não sabemos como lidar com uma cultura cujo padrão social é se renovar tão continuamente, que quase não há um padrão de comportamento. Uma cultura tão disruptiva que destruiu valores arraigados, antes mesmo de novos valores estarem identificados. Uma cultura onde a "diversidade" é a palavra de ordem do momento!

Podemos supor que estamos diante do mesmo desafio agora, que eles estavam vivendo naquela época. O que nos era familiar já não existe e vivemos fenômenos, conhecidos a muito pouco tempo, que viraram nossas vidas pessoal, profissional e social de ponta a cabeça.

Perguntas que podem nos levar a ver a "big picture"

  • É possível acreditar que a criatividade e a inovação são capazes de criar oportunidades lucrativas e promissoras para um país inteiro?
  • É possível entender como talentos regionais, em condições nada extraordinárias, podem criar oportunidades, cuja competência e excelência sejam reconhecidas mundialmente?
  • O que aprender sobre a organização de setores profissionais em grupos, com metas e propósitos, e a longevidade de suas atividades produtivas no mercado internacional?

Próximos passos para aprender com o passado a enfrentar este desafio do nosso presente

Apesar de muito interessante a história da Moda no contexto cultural da primeira década do século XX, você sabia que Paul Poiret, com todo o seu talento que tantos legados nos deixou, não conseguiu sobreviver no mercado depois de passar pela Primeira Guerra Mundial?

Porque?

Quem conseguiu esta façanha?

Quais os negócios de moda de sucesso que surgiram depois deste evento histórico de profunda crise para a civilização humana?

Estas são valiosas perguntas cujas respostas ainda não estão prontas.

Para a continuação nos próximos textos desta desafiadora série de conteúdos "Moda & Crises", escolhemos seguir esta investigação histórica pesquisando os negócios de moda dos estilistas mais consagrados de cada um destes períodos para descobrir o que podemos aprender com eles.

Isto é, pretendemos falar de cada um dos três eventos históricos de crise para a humanidade, que estávamos investigando inicialmente, através de alguns Negócios de Moda bem sucedidos sob aquelas condições.

Será que o passado pode nos contar sobre os insights que guiaram as decisões dos negócios vencedores? Será que o passado pode nos mostrar a resistência à verdadeira inovação dos negócios perdedores?

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