As Técnicas de tingimento industrial e sua História

(Foto de capa - Criador: macarosha | Crédito: Getty Images/iStockphoto)

Já falamos aqui no blog sobre a importância das cores na moda e como elas podem influenciar nosso humor e auto confiança. Falamos também sobre os seus diversos significados. Agora é a vez de falarmos sobre como nossas roupas ganham cor, através dos diferentes processos de tingimento.

Tingir uma roupa é muito mais complexo do que se pode imaginar. Em alguns casos envolve diversos estágios, como por exemplo o estágio final da fixação da cor, quando são usados os mordentes, substâncias para fixar o corante no tecido. Esse processo de fixação faz com que a cor não desbote e não se dissolva com as lavagens, mas o manuseio de alguns produtos químicos usados como mordentes pode ser muito perigoso.

O Tingimento é um processo químico que modifica as cores das fibras têxteis. Esse processo funciona a partir da aplicação de substâncias para colorir, também conhecidas como matérias corantes.

Diversas tonalidades de corantes para tingimento (Fonte: wikimedia commons)

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De acordo com a Wikipédia

Matérias corantes são compostos orgânicos capazes de colorir substrato têxtil ou não têxtil, de forma que a cor seja relativamente sólida à luz e a tratamentos úmidos.

Os tecidos tingidos passam por vários processos químicos que tem como objetivo melhorar a aparência e a conservação das cores. Os processos de preparação e tingimento são chamados de beneficiamento.

Os tecidos são preparados com muito cuidado antes do processo de tingimento. Durante essa preparação são eliminadas as impurezas como ceras, pectinas naturais, óleos, parafinas, gomas, entre outros materiais que possam estar presentes no tecido.

Os tingimentos podem ser feitos de diferentes formas.
Entre elas estão:

Tingimento em fibra

Processo usado para fibras longas, como a lã e filamentos. Esse processo consegue colorir artigos mesclados. Quando usado em artigos sintéticos, pode-se conseguir as cores com a adição de pigmentos na matéria prima, antes mesmo da fabricação do filamento.
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(Crédito:Marcelo Silva/iStock)

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Tingimento em fio

No tingimento em fio o processo mais usado é o tingimento em bobinas. É muito comum na produção de tecido listrado, xadrez ou jacquard. A fidelidade das cores do tingimento com este processo tem boa qualidade, mas é um processo que necessita maior controle e verificação em todas as etapas.
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(Crédito:PixHound/iStock)

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Outro exemplo de tingimento em fio pode ser feito com o urdume em aberto ou em corda. Esse processo é muito usado com o corante índigo.

Tingimento em tecido

É um dos processo mais usados atualmente porque tem vantagens importantes. Este tingimento desperdiça menos corante e tem menos etapas, uma vez que o tingimento é feito junto com o beneficiamento do tecido. Também produz tecidos de cor lisa com a cor mais uniforme.
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(Crédito:danishkhan/iStock)

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Esse processo pode ser feito com o tecido em corda, que ocupa menos espaço, e permite que o tecido pode fique mais relaxado, ou em aberto, que não forma vincos e pode ser trabalhado em processo contínuo.
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História

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A história do tingimento é bem antiga. Os corantes naturais são conhecidos pela humanidade há mais de 5.000 anos e suas técnicas de extração e aplicação já eram bastante desenvolvidas por volta de 2.000 ac.

Muitos registros mostram que os seres humanos usavam corantes desde a antiguidade, em diferentes culturas e regiões.

No entanto, para alguns historiadores, falando mais específicamente de tecidos, o tingimento surgiu na Índia, antes do ano 2.000 ac. Esta tese se baseia na evidência de que o nome do pigmento azul mais antigo, usado em larga escala pelo homem para o tingimento de tecidos era Indikos, que significa hindu em grego. Este pigmento é o índigo.

Investigando a história do índigo pelo mundo, há registros desse tingimento de tecidos em muitos outros países asiáticos como a China e Japão por volta do ano 2.000 ac. Há registros de sua prática também nas civilizações antigas na Mesopotâmia, no Egito na Grécia, em Roma, na Grã-Bretanha, na Mesoamerica, no Peru, no Irã e na África, na mesma época.

Foram encontrados tecidos tingidos de amarelo com açafrão em cavernas na região do Mar Morto.

Acredita-se que os antigos já sabiam que a mistura de corantes azuis, vermelhos e amarelos produzia novas cores.

Por dezenas de séculos os processos de tingimentos eram feitos com corantes naturais. Três corantes orgânicos vegetais foram os principais corantes durante a maior parte deste tempo. São eles o índigo, o corante marinho púrpura e corante vermelho alizarina.

O corante azul índigo, também conhecido como anil, era extraído da planta indigofera Isatis tinctoria.

O corante marinho púrpura era extraído do esmagamento de moluscos marinhos dos gêneros murex brandaris e purpura.

O corante alizarina é um pigmento vermelho extraído da raiz da garança, também conhecida como rúbia (em árabe alizari).
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Alizarina (Fonte: wikimedia commons)

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Inicialmente o tingimento era um ofício caseiro, mas ao longo do tempo se tornou uma atividade comercial. As receitas eram secretas e baseadas em pesquisas experimentais.

Quando o Brasil foi descoberto, começa a extração do pau-brasil porque ele produz um corante vermelho, com qualidade e quantidade muito vantajosas. Durante aproximadamente três décadas os portugueses se tornaram fornecedores exclusivos deste corante para toda a Europa.
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(Crédito:visicou/iStock)

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Os corantes sempre foram valorisadíssimos por suas escassas fontes e difíceis processos de extração. Soma-se a isso o difícil acesso às regiões de coleta da matéria prima para esta extração.

Como mais um agravante deste cenário, a exploração descontrolada por falta de conhecimento, levou à extinção de espécies vegetais e animais das quais se fazia a extração dos corantes. A quase extinção da floresta de pau Brasil no nosso litoral, em apenas 30 anos após a chegada dos portugueses, é um triste exemplo deste fenômeno.

O fato é que o crescimento da demanda mundial, somado à incerteza do acesso às matérias primas e às dificuldades dos processos de extração sempre impulsionaram a incessante pesquisa de novas fontes e processos de extração.

Este movimento culmina na criação dos corantes sintéticos e artificiais, que multiplicam o acesso a este valioso produto, quando libertam a produção das condições extrativistas, iniciando o processo produtivo industrializado.
Telma Barcellos

No fim do século XVIII foram desenvolvidos os primeiros corantes sintéticos. O ácido pícrico foi o primeiro deles. Essa substância foi usada como corante para lã e seda a partir de 1788 e sua cor era amarela.

Uma curiosidade é que essa substância foi usada inicialmente para fabricar munições. Sua propriedade explosiva dificultava bastante o manuseio e limitava a sua disponibilidade para produção de corante. Para somar mais uma dificuldade, sua fixação nos tecidos não era boa.

O século XIX trouxe uma mudança radical para a indústria de corantes. Com a revolução industrial a indústria têxtil cresceu bastante e, consequentemente, a demanda por produtos químicos para tingir, clarear e beneficiar os tecidos aumentou consideravelmente.

No ano de 1856 o inglês William Perkin fez uma das maiores descobertas do mercado de corantes, e por incrível que pareça foi uma descoberta acidental. Cursando química no Royal College, em Londres, Perkin fazia experimentos com quinino buscando um tratamento para a doença malária, porém o resultado de seu experimento foi uma solução de cor púrpura forte, que era absorvida pelo tecido, era resistente à luz e às lavagens.
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Erva do quinino (Crédito:LIKIT SUPASAI/iStock)

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Com a descoberta acidental, batizada por ele como Púrpura de Tiro, Perkin decidiu patentear a solução, montar uma fábrica para produzir o corante e prosseguiu fazendo pesquisas para desenvolver outros tipos de corantes.

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