Outono Inverno 2021 - o desejo contido no comportamento das pessoas
As estações outono inverno já nos remetem à memória de proteção, aconchego e conforto. Com o isolamento social, estes desejos ganharam ainda mais força, mas é importante informar que estas tendências já haviam sido mapeadas também a três anos atrás. Como avaliar este momento histórico?
A ideia de Outono Inverno por si só nos remete à lembrança de proteção, aconchego e conforto. O conforto no inverno é fundamental tanto nos ambientes internos como nos externos, na rotina profissional ou casual, no lazer ou nos eventos formais.
Com o isolamento social, proteção, aconchego e conforto ganharam ainda maior força nas estações de Outono Inverno, mas grande parte destas tendências, que vamos mostrar agora, foram mapeadas a pelo menos três anos atrás, antes mesmo desta pandemia existir.
Enfim, com ou sem isolamento social, as tendências para o outono inverno 2021 trazem um misto de otimismo e consciência da realidade, novas possibilidades e incertezas, design contemporâneo e volta ao passado, o que nos leva a ver que, de forma subjetiva e objetiva, vamos precisar continuar a nos reinventar nesse ano de 2021.
Venha conhecer um pouco mais sobre o comportamento das pessoas e seus desejos de consumo para entender as previsões de temas e estilo que são tendências para a próxima coleção Outono Inverno.
Tendências WGSN
A agência WGSN é uma autoridade global em tendências de design e consumo.
Impossível falar de tendências de estilo, cores, estampas e tecidos para uma estação sem se informar das macrotendências identificadas pela WGSN, porque elas apontam as tendências de comportamento das pessoas que nos ajudam a identificar seus desejos.
Sabemos desde sempre que a escolha do tema de uma coleção tem melhores chances de sucesso quando vai de encontro ao desejo das pessoas naquele momento. Mas agora este fluxo se inverteu. É preciso mapear o desejo das pessoas detalhadamente, quase que de forma individualizada, antes escolher o tema. E mais! O tema pode até ser único, mas o estilo deve desenhar modelos para atender uma maior diversidade de pessoas.
O minimalismo e as cores neutras são fortes tendências para as próximas temporadas de acordo com a WGSN (Fonte: LightFieldStudios/iStock)
Eu, pessoalmente, identifico que a grande mudança estrutural nos negócios de moda no mundo atual é que o estilo não pode mais atender às inclinações estéticas dos estilistas e empresários. Agora, o sucesso comercial dos negócios está diretamente ligado à capacidade de conectar os desejos dos clientes a cada modelo da coleção.
Falando de outono inverno 2021, de acordo com a agência WGSN, a simplicidade e o minimalismo, o estilo com inspiração nas décadas passadas, exigência de sustentabilidade no processo produtivo e nos hábitos de consumo são tendências marcantes na próxima temporada Outono Inverno 2021.
A agência nomeou as principais macrotendências da próxima temporada como Conscious Clarity, New Mythologies e Phantasmagoria. É interessante perceber que ainda que essas tendências tenham sido pesquisadas antes da pandemia, é bem clara a forte ligação delas com tudo o que estamos vivendo. Para explicar melhor essa correlação vamos falar de cada uma destas três macrotendências.
Conscious Clarity
A ideia de "clareza consciente" conversa com a percepção da responsabilidade de cada um de nós sobre o caos ambiental em que estamos vivendo, que é a principal causa da triste incerteza que governa a vida da humanidade no mundo todo neste momento.
O aquecimento global, pandemias regionais e agora uma pandemia mundial, que fez o mundo parar, são claramente percebidos como consequências desse caos ambiental que só pode se resolver com uma mudança radical e imediata no comportamento e estilo de vida de cada indivíduo no planeta. Por isso este estilo é sóbrio e funcional, quase austero.
No Conscious Clarity predomina um "design sem estação". Os modelos são desenhados para sobreviver à estação, porque os princípios desta tendência são a sustentabilidade na cadeia produtiva dos tecidos e roupas e o consumo responsável. Em outras palavras, essa tendência está relacionada à redução do consumo exagerado e à busca por qualidade e não por quantidade.
Na prática, esta tendência aposta no desenho contemporâneo de modelos clássicos de roupas que atravessaram gerações em uso. Outra forma deste "design sem estação" é a releitura de estilos de outras décadas, mas sem ênfase em um determinado período. Mais como uma seleção de peças de várias épocas com uma característica em comum, a versatilidade para sobreviver a várias estações.
Modelos clássicos, casuais, confortáveis e duráveis estão entre os destaques das tendências para a próxima temporada outono inverno (Crédito:CoffeeAndMilk/iStock)
Por tudo isso, o "design sem estação" desta tendência tem uma estética minimalista e sua marca é a criação de peças atemporais, com qualidade e inovações tecnológicas para que todas as peças de roupa produzidas tenham uma longa vida útil.
Nos tecidos a funcionalidade e a durabilidade para aplacar a "incerteza deste momento" está presente nos tecidos tecnológicos. Estes tecidos são escolhidos por sua performance em determinadas linhas de roupas, mas também por seu aspecto futurista, iridescente, acetinado ou de texturas originais, que também podem ser usados em linhas de modelos de luxo.
Entre as muitas vantagens de performance destes tecidos estão os tratamentos antirruga, antimancha e secagem rápida. E cada funcionalidade foi feita não só para o conforto e a qualidade durante o uso, mas também para o aumento da vida útil de cada peça de roupa produzida.
Representando o desejo de segurança e certeza contidos na ideia de "Tradição" estão os tecidos de fibras naturais, com tingimentos e acabamentos mais orgânicos, como por exemplo, os tecidos impermeabilizados com cera de abelha ou lanolina.
A variedade de aspectos vai do rústico que lembra o orgânico, aos acetinados ou iridescentes mais suntuosos. Também os tecidos de fibras naturais oferecem funcionalidades tecnológicas inovadoras como tratamentos antirruga, antimancha, secagem rápida e qualidades antivirais, bactericidas, etc. Enfim, os tecidos de fibras naturais também estão em perfeita sintonia com os conceitos de qualidade, durabilidade e sustentabilidade.
Nas cores a representação do desejo de um futuro consciente lado a lado com a força da emoção do medo e da incerteza, que agora já não é mais passageira, aparece em tons fortes e marcantes lado a lado com tons pastéis, mas também muito definidos e com uma escala de cores ampla. (Coloro & WGSN Autumn Winter 2021-22 A trendbookpresentation)
A ideia é de contraste. A emoção é surpreender. O cinza normalmente calmo e frio, aparece iluminado, com brilho. O vermelho em tom sóbrio fica mais dinâmico sobressaindo nas frestas de listras pretas ou com o brilho de um acetinado. Os padrões de xadrez estão muito bonitos com estas combinações de cores.
Traduzindo para a cadeia produtiva e para o consumidor de moda, as roupas do dia a dia terão um design mais simples e clássico em sua aparência, mas serão produzidas com tecnologia de ponta para ter funcionalidades inovadoras e um aumento perceptível na qualidade.
Em outras palavras, a tecnologia têxtil será o grande diferencial na tendência Conscious Clarity. Os tecidos funcionais e os wearables ganham cada vez mais espaço neste contexto e também aqui a durabilidade das peças será de extrema importância.
Técnicas e práticas mais sustentáveis ganharão cada vez mais força e destaque no universo da moda (Crédito:LightFieldStudios/iStock)
De acordo com a WGSN essa tendência aponta que mais pessoas estarão dispostas a investir mais dinheiro em produtos de qualidade superior e com maior durabilidade, para poder consumir menores quantidades e contribuir pessoalmente para a recuperação ambiental do planeta.
E claro, a tendência de "clareza consciente" fala de consumidores que querem ter mais informação sobre o que consomem. Vai sair na frente nas vendas quem informar a procedência dos tecidos e do processo produtivo nas roupas.
Modelos de roupas feitas com upcycling, com matérias primas recicladas ou com processos produtivos inteligentes e ecologicamente responsáveis, atendem aos princípios básicos dessa tendência. Estes processos produtivos têm uma visão sistêmica, criativa e holística do consumo de moda em sintonia com o estilo de vida sustentável.
New Mythologies
A ideia de "nova mitologia" conversa com o questionamento profundo da atual ordem mundial. A percepção da incompetência das instituições econômicas e políticas para resolver problemas como o aquecimento global, a exclusão social dos sistemas econômicos colonialistas, a concentração de renda que mantém a fome e a miséria no mundo mesmo com tantos avanços tecnológicos, doenças e pandemias que não encontram solução no individualismo e muito mais.
Também esta tendência aponta que o comportamento das pessoas para mudar tudo isso é a busca de soluções pela responsabilidade individual, porém através da mobilização de coletivos locais, para trabalhar na solução dos danos causados por estes problemas globais na sua comunidade local.
Na prática, cresce a importância da cultura local, junto com o enfraquecimento da cultura global. A percepção de que os valores importados de culturas distantes não ajudam a encontrar as respostas porque fazem parte da causa de todos estes problemas, leva as comunidades locais a se interessaram por seus valores ancestrais.
Os trabalhos artesanais e manuais estão em alta com a macrotendência New Mytologies que traz a força do Slow Fashion (Criador: Ri Fotoproducto|Crédito: Getty Images/iStockphoto)
Se a "tradição" deste sistema atual é parte do problema, uma saída é buscar conhecimento e sabedoria na ancestralidade das culturas locais e no resgate de seus costumes na vida presente.
Um exemplo interessante deste comportamento aqui no Brasil é o movimento #descolonizeamoda, criado pela estilista indígena Day Molina. O objetivo do movimento é combater o euro centrismo que domina o universo da moda, abrindo espaço para a moda local e autoral aqui no Brasil.
Em outras palavras, o objetivo é buscar os elementos para as criações brasileiras nos saberes dos nossos ancestrais que são genuinamente indígenas. Nos trabalhos de Molina, o estilo dos modelos, as cores, os temas e desenhos das estampas são uma representação da cultura da sua tribo.
Mas para a moda brasileira, o seu trabalho é mais, é um convite para toda a imensa diversidade cultural brasileira ser representada nas coleções de moda daqui para sempre.
Falando de forma bem prática para quem quer produzir seguindo esta tendência, além da escolha de um tema da cultura brasileira cuja estética seja encantadora para o seu público consumidor, a coleção precisa ter um estilo que resgata o "feito à mão", com muita presença de bordados, tricôs, crochês e técnicas artesanais características de cada tema.
Tecidos e aviamentos desta tendência são de fibras naturais e matérias primas orgânicas. E mesmo as inovações criadas pelo avanço das tecnologias são de base biológica.
O compartilhamento, reciclagem e o reuso na moda está entre as tendências da próxima temporada (Fonte:golero/iStock)
Como não poderia deixar de ser, esta tendência também valoriza o consumo consciente e a sustentabilidade. Por isso valoriza as inovações da tecnologia para produzir roupas de vida útil longa e processos produtivos sustentáveis. No entanto, ela desconstrói os conceitos de "velho ruim" e "novo bom", promovendo a imagem positiva de negócios de moda que reciclam o uso das roupas e acessórios como por exemplo os Brechós, Aluguel de Roupas, Trocas de Roupas e outras novidades que estão surgindo.
Resumindo, quem decidir produzir em sintonia com esta tendência, precisa desenhar um estilo moderno e jovial com temas e ícones da ancestralidade da "cultura tema da coleção". As roupas têm que vestir pessoas que vivem em um mundo tecnológico e globalizado, que exigem conforto, versatilidade e durabilidade, ao mesmo tempo em que desejam uma estética que fale dos seus valores "tribais" e da sua identidade pessoal.
Vai sair na frente nas vendas quem visualizar "o quê" mobiliza o seu público consumidor antes de escolher o tema e desenhar o estilo da coleção.
Phantasmagoria
Das três tendências, a ideia de "fantasmagórico" é a que conversa de forma direta com nossos medos mais assustadores e com nossas inseguranças emocionais e físicas que dominam este "novo normal", imposto por esta pandemia.
A violência policial e social, a insegurança econômica e a incerteza geopolítica são o novo normal, mesmo nos países tidos como desenvolvidos, com suas economias "fortes". No contexto em que estamos vivendo agora, a convulsão social é uma possibilidade muito real em todos os países do mundo.
O grau de destruição da eclosão de uma convulsão social em vários pontos do mundo simultaneamente é completamente desconhecido. Como também era quase inimaginável tudo que estamos vivendo agora, a tão poucos meses daquele estado de coisas que conhecíamos como normal.
No plano pessoal, as taxas de depressão e ansiedade estão em níveis elevados em toda a Europa Ocidental, nos EUA, no Brasil, no Japão e na Coreia do Sul. A WGSN destaca preocupações relacionadas a questões ecológicas, como aquecimento global, a extinção da água potável e o medo de que a vida humana no planeta fique quase inviável como causa do aumento crescente destas taxas de depressão e ansiedade em escala global
Neste contexto, as pessoas estão fortemente mobilizadas em conseguir proteção física e segurança emocional, ao invés de estarem preocupadas com seus desejos de consumo de coisas materiais.
A tendência "phantasmagoria" traz a mistura de fantasia e realidade (Crédito:iiievgeniy/iStock)
Como mapear o comportamento das pessoas diante de uma realidade tão terrível e tão desconhecida para todos nós?
"Phantasmagoria" é o resultado desta pesquisa e aponta o comportamento que esta realidade já está provocando.
Os nossos sonhos podem até não desaparecer, mas vamos estar mais abertos a confrontá-los ou a fugir deles através de uma combinação de realidades físicas e digitais.
WGSN
A fuga para uma "realidade paralela" no mundo digital através de jogos, plataformas digitais, filmes e séries de fantasia e ficção científica estranhamente escolhe os temas que vivenciam as mesmas emoções de medo e terror da realidade.
Na moda, a estética que conversa com estas emoções tem dois extremos. Em um extremo estão os looks sombrios, monocromáticos, de cores escuras, com os antigos temas góticos, punks e até mesmo com os temas lúgubres do rock heavy metal.
O couro e as correntes estarão presentes nos looks outono/inverno de acordo com a macrotendência Phatasmagoria (Fonte: PxHere)
No outro extremo estão os looks de luxo opulento, como por exemplo vestidos de épocas impactantes, conectados a uma história que provoque o desejo de ser um personagem daquela fantasia.
Podemos supor que apostar nesta tendência pode ser um grande risco, mas quem conseguir desenhar um estilo que se conecte com emoções tão fortes e dominantes pode ter resultados de sucesso espetaculares.
Vai sair na frente nas vendas quem puder repaginar estes temas em modelos com estilo mais atual, produzindo roupas com tecnologia de ponta, com funcionalidades inovadoras e um aumento perceptível na qualidade. Afinal, também nesta tendência, o desejo de comportamento das pessoas é poder consumir menores quantidades e contribuir pessoalmente para a recuperação ambiental do planeta.
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