As mudanças e (r)evoluções das saias nos séculos XX e XXI
O século XX foi especialmente dinâmico para a história das saias pelo ritmo das mudanças e pela variedade de tipos e modelos criados. Este foi um século marcado por revoluções sociais em vários pontos do mundo, sendo que a luta pelos direitos da Mulher faz parte de quase todas elas. Neste contexto, as saias tiveram importante participação nessa história.
Como já falamos no texto “A História da Saia”, aqui no blog Modacad, o século XX começa com o modelo de saia liso, comprido até os pés e seu formato era semelhante a um sino. Logo depois Paul Poiret lançou a saia Hobbles que, apesar de mais curta e mais moderna, não era muito interessante para as mulheres, já que tornava impossível dar passos maiores do que 5cm.
As saias Hobbles de Paul Poiret marcaram uma época por sua inovação e beleza. Para mim a originalidade de Paul Poiret é facinante e inquestionável. Mas quando as saias Hobbles sacrificam a mobilidade feminina em prol da beleza, mostram que mesmo um design inovador pode representar uma mentalidade conservadora.
Lembrando que as primeiras décadas do século XX foram palco de acirrada luta pelos direitos femininos, diante de uma repressão muito severa às reivindicações, o que seria realmente disruptivo naquele contexto, seria ver a moda quebrando os velhos padrões que colocam a mulher num papel passivo de culto a comportamentos que não promovem a sua liberdade de movimento e ação.
Na primeira década do século XX, a moda era usar saias sobrepostas. Era um conjunto de duas peças, composto de uma espécie de túnica por baixo, com uma saia comprida e justa sobreposta. Este modelo também dificultava bastante o andar das mulheres e, talvez por isso, seu uso também não durou muito.
Nos anos 20, a moda foi evoluindo e o desejo das mulheres de vestir roupas que não limitassem tanto seus movimentos vai ficando mais difundido e reconhecido socialmente .
Nesse movimento pela liberdade no vestuário, Gabrielle Chanel, mais conhecida como Coco Chanel, começou a usar, e depois a produzir e vender, roupas que considerava mais confortáveis, quebrando diversas regras do dresscode da época, entre elas o comprimento e o volume das saias. Chanel foi uma das primeiras a desenhar modelos de saias mais curtas. Lançou saias com cortes mais discretos e elegantes, com um formato tubular, mais justo ao corpo, diferente das saias rodadas e volumosas de outros tempos.
Se considerarmos que para os valores sociais da época, o tornozelo feminino expunha uma sensualidade provocante sexualmente, podemos entender melhor o tamanho da ousadia de Gabrielle Chanel com suas saias tubo, bem próximas às curvas do corpo, nos comprimentos midi, no meio da canela e, posteriormente, na altura do joelho, deixando os tornozelos à mostra e o corpo feminino em evidência.
Na década de 30, o glamour e a sofisticação voltam a se destacar com a volta do consumo, depois do longo período de privações do pós-guerra. Os looks ganham ares mais românticos e voltam a ter a cintura marcada. As saias se dividiam entre modelos mais conservadores de volume amplo com cintura marcada e os modelos lápis mais modernos. Os comprimentos longos voltaram, quase chegando aos pés.
Nos anos trinta, uma década e meia após o fim da primeira guerra mundial, já sem as restrições de matéria prima impostas à produção de roupas no pós-guerra, a moda começa um movimento de retrocesso a padrões de beleza anteriores à guerra. Podemos entender este movimento como o desejo de volta a um período que desconhecia tamanha privação e dor.
Mas é fato que as privações do pós-guerra resultaram na criação de roupas femininas com volumes mais justos e comprimentos mais curtos que realizaram um avanço libertador de comportamento para as mulheres. Estas roupas tinham mais do que conforto e mobilidade. Foram desenhadas e produzidas para que as mulheres desempenhassem funções sociais e profissionais que antes estavam fora de seu alcance.
Mesmo sem sair de cena, o vestuário feminino moderno teve que disputar espaço com a moda romântica antiga, e seu comportamento limitante para as mulheres, junto com o movimento de resistência aos ataques às novas posições da mulher na vida social fora do lar.”
Os anos 40 foram marcados pela segunda guerra mundial e pelo pós-guerra. Na Inglaterra foi estabelecido uma espécie de racionamento de roupas, limitando a quantidade de tecido por peça, desta vez por normalização legal. Estas normas ditavam o comprimento e largura das saias e de todas as outras peças de roupas. O fato é que os comprimentos e volumes das saias diminuíram novamente. Modelos de saias retas eram feitos com pregas invertidas, ou machos, com o intuito de facilitar o movimento em modelos com volume tão justo.
Foi uma época marcada por extremos no universo feminino. As mulheres foram convocadas para trabalhar nas fábricas, iniciando assim oficialmente sua entrada no mercado de trabalho. Isso aconteceu porque os trabalhadores deixaram as fábricas para lutar na guerra. Mas ao mesmo tempo, foi nessa década o surgimento das Pin’ups, mulheres ilustradas de forma sensual em revistas, cartazes, cartões postais e calendários.
A figura feminina representada pelas Pin’ups elege como valores femininos de destaque a sensualidade e a sedução, em um momento em que a competência profissional feminina, a eloquência social e a participação política entravam em cena e eram muito mais importantes.
O fenômeno artístico de comunicação das Pin’ups representa muito bem a cisão abrupta entre valores e posições. Como se as mulheres fossem de um universo ou de outro, quando sabemos hoje que estes valores são complementares. Isto é, mulheres sensuais e sedutoras são também excelentes profissionais, influencers ou políticas.
Acho razoável supor que este fenômeno de cisão abrupta é a expressão de que os fatores que levaram a mulher para o mercado de trabalho na época da guerra foram alheios à sua própria decisão. Não aconteceram por evolução da mentalidade e consciência dos seus direitos.
Obedecer à convocação para trabalhar não foi uma escolha, bem como não foi possível escolher continuar a trabalhar para ser independente. Só depois de experimentar uma realidade emancipadora é que um número cada vez maior de mulheres percebe com mais clareza que precisa lutar por ela e por todas as mudanças sociais que ela representa.
No fim da década de 40 foi lançado por Christian Dior em 1947, na coleção Carolle, o comprimento da saia midi. Este lançamento é considerado a consagração deste comprimento de roupa.
O New Look de Christian Dior lançado em 1947 (Crédito:Sara Gambarelli/ new look by Dior/storiedellamoda.wordpress.com/ Flickr)
Nos anos 50, num movimento saudosista da estética anterior à segunda guerra, bem parecido com o que aconteceu nos anos 30, as saias voltam a ter o volume amplo com a cintura marcada e comprimento na altura dos tornozelos. As saias rodadas, o surgimento da saia plissada, as estampas em poá, a cintura marcada e o Rock são ícones da década de 50.
Modelos típicos dos anos 50 com poá (Crédito:ElenaMichaylova/iStock)
Nessa época as revistas femininas e suas dicas de moda viraram um fenômeno de comportamento. Para completar este quadro de extremos iniciado na década de 40, nos anos dourados, em plena época de popularização do “pret a porter”, que é a fabricação em série das roupas, a alta costura volta a se destacar, marcando o início da carreira de importantes nomes, como Balenciaga, Givenchy e Balmain.
Na década seguinte foi a vez da polêmica e adorada minissaia. A peça é considerada ao mesmo tempo como criação da estilista inglesa Mary Quant e do estilista francês André Courreges. Porém, Quant afirma que sua inspiração para criar a mini saia veio das ruas. O fato é que a mini saia é um fenômeno de sucesso na moda até os dias de hoje e representa um avanço no comportamento de emancipação feminina. A década de 60 marca também o início da liberdade sexual feminina, tendo como um de seus pontos altos a popularização da pílula anticoncepcional.
Os modelos de vestidos com mini saias dos anos 60 (Crédito: zubada/iStock)
Essa época pode ser considerada uma das mais revolucionárias da história da moda com o uso de cortes simétricos e geométricos, além das roupas com um estilo espacial, fluorescente e metálica. E os modelos de saia eram variados, acompanhando a explosão de estilos da época.
Com os anos 70 chega também o movimento hippie. O discurso anti-sistema despertou nos jovens o desejo por um novo estilo de vida, o famoso "Paz e Amor". Esse estilo pedia roupas mais simples, com estampas étnicas, florais, psicodélicas, em tecidos esvoaçantes, leves e as saias acompanharam esse movimento. Também com o comprimento longo, as saias deste estilo se tornaram novamente o ícone de um importante movimento social, o Movimento Hippie, um dos símbolos dessa década.
O estilo hippie dos anos 70 (Crédito:atlantic-kid/iStock)
A moda Hippie deu lugar no finalzinho da década de 70 à moda Disco, que trouxe elementos extravagantes baseados em materiais sintéticos. Muito glitter, brilho, cores e saias curtas de lycra eram os destaques desse estilo. O estilo era bem exagerado, combinando com as discotecas da época.
Os anos 80 também tiveram uma grande variedade de estilos. A década teve diversos modelos de saia que se destacaram, como as saias balonês, a composição minissaia e leggins geralmente em tons neon.
Modelos de roupas neon e sobreposição de saia com calça leggin fizeram sucesso nos anos 80 (Crédito:Jason_V/iStock)
O estilo Lady Like, também ganhava muitas fãs inspiradas em Lady Di. As pessoas começaram a se sentir mais à vontade para se vestir como bem quisessem.
Chegando ao final do século XX, nos anos 90 surge um aumento na variedade de estilos, mas o exagero e extravagância comum às duas últimas décadas diminui. É muito comum o uso de saias jeans nos mais diferentes tamanhos e até modelos com babados. Diversas peças marcantes de décadas passadas ganharam releituras. Os conjuntos de minissaia e casaquinho ganham o coração das meninas graças a filmes como Patricinhas de Bervely Hills. A liberdade na moda da década de 80 deu origem ao estilo que mais se destacou na década de 90, o licensing, uma forma de personalizar suas composições ao seu modo.
Logo no início do século XXI as peças que deixavam o umbigo a mostra começaram a fazer sucesso, e claro, as saias acompanharam a tendência. Os looks total jeans, as saias assimétricas em diversos comprimentos também deram as caras nos anos 2000.
Em tempos mais recentes, acompanhamos o vai e vem de referências de décadas passadas. A liberdade ao se vestir se tornou ainda mais consagrada e temos os mais diversos estilos.
Claro que a cada ano existem tendências mais fortes nas coleções que são colocadas à venda nas lojas, mas hoje é possível fazer misturas tão improváveis a bem pouco tempo, como vestir uma camiseta bem atual, com frases do momento, combinando com uma saia midi metálica plissada, peça de releitura de estilos passados.
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