Estilismo pelo Mundo BRASIL Estação 2024 2025

Estilismo pelo Mundo BRASIL Estação 2024 2025 apresenta três estilistas brasileiros e suas coleções desfiladas na edição 57 da SPFW para falar de identidade cultural brasileira e negócios de moda - série de textos sobre criação de moda fiel às raízes culturais de povos fora do eixo Europa e EUA.

Estilismo pelo Mundo BRASIL Estação 2024 2025
Foto 1: Tânia Rêgo/Agência Brasil - Foto 2 e Foto 3-Fernando Frazão/Agência Brasil

Esta série de textos "Estilismo pelo Mundo" sobre criação e comercialização de moda fiel às raízes culturais de povos fora do eixo Europa e EUA, depois do texto TOKIO Outono Inverno 2024 2025, segue sua trajetória neste segundo texto falando de... Estação 2024 2025 aqui no Brasil.

Se o foco deste trabalho é pesquisar a ousadia da criação de moda ligada à diversidade de culturas locais espalhadas pelo mundo, vamos encontrar produções de moda inseridas em estações climáticas opostas ao mesmo tempo.

Isto é, vamos falar de outono inverno no hemisfério norte e de primavera verão no sul global simultaneamente, pesquisando as coleções lançadas para a temporada 2024 2025 no planeta.

Por esta condição, desistimos de ter um roteiro pré definido para escolher os rumos da pesquisa e olhar para lançamentos recentes e também não tão recentes com a mesma curiosidade, uma vez que trabalhos com forte identidade cultural têm força para deixar sua marca no mercado por mais de uma coleção.

Sem mais demora, mãos à obra! Bora conhecer neste texto, um pouco desta moda brasileira que fala de Brasil!

Marcas e Estilistas rastreados por esta curadoria no SPFW 57

Para abrir o primeiro texto falando de Brasil nesta série "Estilismo pelo Mundo", é nosso dever reverenciar o estilista brasileiro que honra suas raízes culturais nordestinas e brasileiras em toda a sua obra, ao longo das mais de quatro décadas da sua trajetória profissional na moda.

Lino Villaventura

Este estilista autodidata inicia sua carreira na alta costura no final da década de 70, com uma peça feita à mão por ele mesmo para presentear a namorada.

“As mulheres começaram a ver o colete que criei para a Inez e me pediam para criar algo para elas. A coisa foi ficando séria e virou uma febre em Fortaleza. Minha casa virou ponto de encontro e foi parar no jornal”. Lino Villaventura

Apenas quatro anos depois, em 1982, ele funda em Fortaleza a marca que leva seu nome artístico. Com seu estilo autoral inconfundível, Lino inicia sua trajetória criando e confeccionando moda luxo com materiais e técnicas de produção brasileiras, como por exemplo as rendas e bordados do nordeste.

É ele quem começa a mostrar ao mercado de luxo a beleza e o valor da cultura contida nestas técnicas passadas de geração a geração pelo saber popular.

Em outras palavras, Lino leva para a alta costura no Brasil, que ele torna conhecida no mundo, tradições brasileiras que estavam limitadas à produção artística de artesanato local, realizando uma conquista atemporal para a cultura brasileira na representação da identidade do nosso país.

Por esta originalidade artística tão rica em "brasilidade", sete anos depois da fundação da sua marca, em 1989, Lino Villaventura foi convidado pelo Itamaraty para representar o Brasil na World Trade Fashion em Osaka no Japão.

Um ano antes, em 1988, um vídeo com criações de Lino já havia sido arrematado pelo Stedelijk Museum de Amsterdã. E sua reputação artística no mercado internacional conta também com a exposição de trabalhos seus em 1995 na Art do Wear - Luns als Kleidung na Alemanha e na exposição Arte do Brasil em Beirute, no Museu Sursoak no Líbano. Fonte: Fashion Network

Além de realizar esta importante representatividade da cultura brasileira no nosso próprio país e no mundo, Lino Villaventura é um ícone da trajetória da indústria de moda no Brasil com feitos como desfilar suas coleções em todas as edições do SPFW São Paulo Fashion Week, o primeiro evento de moda brasileiro a ser reconhecido no calendário mundial do setor.

Mas para além desta trajetória profissional rica de conquistas tão importantes, o que encanta em Lino Villaventura é a estética e a originalidade da sua arte! Sou fã!

A beleza de suas criações só não é maior do que a perfeição da arte de alfaiataria dos seus complexos modelos. As modelagens são incríveis! A confecção é perfeita.

Por todos estas qualidades artísticas e profissionais, penso em Lino Villaventura como um "Arquiteto da moda", alcunha conferida à estilista francesa Madeleine Vionnet, cuja grande originalidade era criar recursos de modelagens para realizar volumes incrivelmente inusitados em seus modelos.

Esta estilista sem dúvidas é um marco nas referências estéticas de importantes designers ao longo da História da Moda. Mas cá entre nós... depois de visitar o museu de suas obras em Lion... A excelência de Lino Villaventura na confecção de alfaiataria passou a ocupar uma posição ainda mais alta, na minha modesta capacidade de avaliação desta arte.

Modelos que parecem contrariar a força da gravidade e as condições físicas de tecidos e materiais, desfilam na passarela uma elegância de porte majestoso, mas ao mesmo tempo cheia de sensualidade e irreverência.

Lino é aquele artista que provoca comentários como este com suas obras.

"Meu desejo por este modelo é tão absoluto que poderia usa-lo 24 horas, por dias a fio, independente de eventos ou ocasiões. Afinal, antes de combinar com qualquer coisa, este vestido combina com as incríveis emoções que ele me faz sentir!" Comentário de uma pessoa querida que ama moda!

Para avaliar por si mesmo todas estas minhas considerações sobre este consagrado estilista brasileiro, nada como assistir ao desfile da sua última coleção na SPFW 57.

Dá só uma olhadinha se este vestido não é perfeito para este comentário aí em cima!

Ou este?

Hummm... Mas este também é o meu preferido! Rrsrsrs...

E... E também este!!!

E? Fazer o que? Admitir logo que entre os 75 modelos desfilados nesta edição 57 SPFW... até os masculinos são meus preferidos! Parabéns Lino!!!

Maurício Duarte

Nesta São Paulo Fashion Week edição 57 SPFW, o designer amazonense Maurício Duarte desfilou a coleção "Piracema".

Piracema é o nome indígena brasileiro para o fenômeno da natureza em que cardumes de peixe de água doce nadam contra a corrente dos rios por longas distâncias, para fazer a desova o mais próximo possível das nascentes no período de reprodução.

Um fenômeno da natureza que ocorre em várias partes do planeta, cheio de movimento e luta, que ilustra de forma visceral a força da vida para prosperar.

Este tema da coleção se revela na passarela em modelos fluidos, com drapeados orgânicos belíssimos. Acessórios criados pelo designer mineiro Carlos Penna, incorporados aos modelos quase como aviamentos, desenham curvas e projetam espaços para além do corpo com uma originalidade sedutora.

Com o estilo único de Maurício Duarte, modelos confeccionados em tecidos de algodão e seda já não precisam tanto da força e beleza do grafismo indígena na estamparia para mostrar a elegância da identidade do vestir da sua cultura.

Alguns modelos tricotados com a trama da malhadeira de pesca típica da Amazônia, são feitos com fios de tucum e juta, fibras da região, cujo extrativismo e beneficiamento são produto da cultura dos povos nativos.

Acessórios inspirados no desenho da Matapi, armadilha de pesca do camarão da Amazônia, podem ser usados nas orelhas como brincos, nos dedos em um anel e também junto ao corpo nos seios femininos e masculinos, como se fosse um sutiã.

Escamas do pirarucu super orgânicas flutuam suspensas em peças de metal que remetem à tecnologia industrial, em uma harmonia fluida, desenhada pelas curvas assimétricas que libertam o metal da sua rigidez no design de brincos lindíssimos.

Acessórios para a ponta dos dedos e uma carteira desfilada por um modelo masculino, com uma longuíssima franja de sementes colhidas no solo dos Igapós, completam o tom de originalidade das criações deste estilista amazonense, do povo indígena Kaixana.

Em todas as formas de arte, seus criadores revelam de forma consciente e inconsciente seus traços culturais e sua ancestralidade. Mas Maurício Duarte faz mais do que isso.

Trabalhando com técnicas ancestrais, inspirado pela memória das tradições indígenas, Maurício cria moda como uma forma contar histórias e preservar a cultura de seu povo. Seu trabalho é um forte vetor da ainda frágil representatividade dos povos originários na cultura brasileira.

Contratando mão de obra em sua maioria de mulheres indígenas artesãs, tanto em associações indígenas de Manaus e de São Gabriel da Cachoeira no Amazonas, quanto em São Paulo, Maurício realiza importante inclusão social com o seu trabalho.

Vale conferir a identidade única da trajetória de criação de moda deste estilista até aqui e seguir acompanhando sua evolução.

Podemos aprender com Maurício mais do que a ousadia da originalidade de seu estilo. Podemos entender que desafiar as expectativas do mercado, que busca alguma previsibilidade dos riscos dos negócios de moda ao seguir tendências, é o caminho para criar um público consumidor só seu.

Marina Bitu

Nesta São Paulo Fashion Week edição 57 SPFW, a designer cearense Marina Bitu desfilou a coleção "Cariri: o início e o fim".

O Cariri fica na região cearense da Chapada do Araripe, uma peculiar formação geográfica com um sítio paleontológico de grandes proporções, situada na divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco.

Inserido nesta riqueza ambiental e cultural, o Cariri criou tradições culturais únicas, que podemos conhecer em seu artesanato, folclore, música, danças, festas religiosas e muito mais.

Este tema da coleção se revela na passarela em modelos de volumes e formas despojadas, porém confeccionados em materiais belíssimos. É como se cortes e modelagens fossem apenas uma tela em branco para expor a arte do beneficiamento dos tecidos e materiais da coleção.

Esses materiais e o beneficiamento dos tecidos são o resultado da mistura da tradição artesanal dos povos nativos do Cariri, com a pesquisa de matérias primas da região e a peculiar beleza daquela natureza.

As cores do nascer do sol na Chapada do Araripe estampam organzas e cetins de seda pintados à mão pela cearense Paula Siebra.

Franjas de fibra de palha de bananeira, cujo extrativismo e beneficiamento são produto da cultura dos povos nativos, ornamentam modelos.

Misturadas com fios de algodão, estas fibras de palha de bananeira também são usadas nos crochês da coleção.

Retalhos disformes, arredondados e desfiados, de algodão alvo, unidos por pontos de costura que confeccionam uma trama vazada e flexível, são o material do primeiro look a entrar na passarela, anunciando o espetáculo de materiais que estava por vir. Surpreendente... Lindo!

Mas a poesia da coleção está justamente na harmonia de materiais e beneficiamentos tão orgânicos confeccionando modelos com estilo tão contemporâneo! Essa mistura fica ainda mais bem representada nos micro paetês de bioplástico, feitos com glicerina, pó de café e óleo de girassol.

O estilo atemporal dos modelos produz uma elegância desconectada de padrões de tipos de corpo e faixa etária. É uma coleção para vestir pessoas de todos os cantos da aldeia global, na terceira década do século XXI, que fala de Brasil com muita autoridade!

Este trabalho, aclamado como um sucesso pela mídia especializada, é o resultado do amadurecimento da identidade estética e cultural desta estilista tão criativa. A trajetória profissional de Marina Bitu é repleta de "brasilidades" desde seus primeiros trabalhos, mas é possível perceber que vai ficando mais autoral com o acumulo da experiência.

Conheça no site Marina Bitu as coleções Pindorama e Fungos. A primeira leva o nome do nosso país, dado pelos índios brasileiros e da América amazônica. Na segunda, você encontra temas de inspiração em biomas do nosso país.

Mas uma intensão cada vez mais firme de criar moda para falar das suas raízes culturais e para ser vetor de inclusão social e de processo produtivo sustentável, parece ser resultado deste amadurecimento.

A própria Marina define sua identidade como estilista...

“A mescla de onde venho, dos elementos, ícones e técnicas de onde nasci, o Ceará. Mas com um olhar mais voltado para o entendimento do mundo. Identificar a nossa identidade é um processo demorado. Só por volta de 2017 consegui.” Marina Bitu revista Elle.

A marca Marina Bitu foi fundada em 2017. Em 2019, com a entrada de Cecília Baima como sócia, começa a expansão comercial que trouxe visibilidade à marca no resto do país. Essa expansão inclui a primeira participação no São Paulo Fashion Week na edição 55.

Marina nasceu em Fortaleza, mas a sua família é de Várzea Alegre, cidade da região do Cariri.

Gostou deste texto "Estilismo pelo Mundo BRASIL Estação 2024 2025"?

Não perca o próximo texto... Estilismo pelo Mundo... México ou África ou Sudeste asiático. Ainda não sabemos quais os ventos vão nos levar nesta aventura.

Bom trabalho e bons negócios para todos os nossos leitores!

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