Cores na moda, sensações, significados e a conexão com nossas emoções
Já falamos muitas vezes sobre cores aqui no blogModacad. De forma muito resumida podemos definir as cores como a percepção visual registrada pelo nosso cérebro da luz refletida ou absorvida pelos objetos.
Mas sabemos que as cores são muito mais do que isso nas nossas vidas. Cada cor tem o poder de provocar sensações de diversas intensidades e de diferentes tipos de emoções, porque tudo o que o cérebro registra é processado e transformado em um conhecimento, que vai ser usado para nos orientar no mundo.
Designers de moda, de objetos, de ambientes, de espaços urbanos e de comunicação precisam conhecer a ciência das cores para fazer o seu trabalho.
Como as cores sinalizam informações sobre o mundo na cabeça das pessoas, elas são usadas no design com o propósito de provocar a sensação escolhida, na intensidade exata, para atingir o resultado de conectar a atenção das pessoas.
Na moda, precisamos fazer mais do que conectar a atenção das pessoas, precisamos atraí-las, provocar desejo e, o mais importante, inspirar uma identificação pessoal com aquele produto para vender nossas criações.
Hoje escolhemos falar das sensações que as cores provocam e qual o significado por trás destas sensações, que podem nos ajudar a fazer as melhores escolhas para colorir a identidade de cada obra do design.
Qual a melhor cor para inspirar a identificação das pessoas com um modelo?
Qual a melhor cor para colorir a identidade da sua marca?
Qual a melhor cor para comunicar o tema de uma coleção?
O senso comum é capaz de identificar algumas sensações universais sobre as cores básicas. O preto comunica sobriedade e por isso pode estar identificado com o luxo ou com o luto dependendo da situação. O branco comunica luz e por isso, dependendo da situação, pode estar identificado com a distinção, o brilho e o destaque ou com a simplicidade, a pureza e a inocência.
Em outras palavras, uma cor comunica um sentimento, mas o seu significado concreto já é o resultado de uma interpretação da pessoa, que depende do momento, do objeto e também da civilização e do tempo histórico em que vive esta pessoa.
O vermelho nos comunica sangue, larva incandescente e esta força pode ser usada para mostrar o amor e a vida, tanto quanto o perigo e a morte. Ao longo da história, em diferentes culturas, ele foi usado de formas tão diferentes quanto para distinguir a autoridade e a força ou o sacrifício e a misericórdia. Leia sobre o contexto histórico desta e das outras cores no texto "Cores na Moda e seus significados" aqui no blogModacad.
Mas entender tudo isso é só o começo! Até mesmo a intensidade de cada cor pode provocar sensações tão diferentes em uma mesma cor, que é preciso estudar também os tons e texturas com bastante atenção.
Podemos entender a complexidade e a importância deste aspecto olhando para uma escala Pantone de cores. A variedade dos tons de cores primárias e secundárias é tão extensa, que uma escala tem milhares de cores.
São estudadas e editadas escalas de cores específicas para a moda, para o design gráfico, para produtos de pequenos portes até produtos de grandes portes, como automóveis e aviões, escalas de cores específicas para ambientes e muito mais.
Na cultura ocidental, o primeiro registro de estudos que conectam as diferentes sensações provocadas por diferentes tons ou intensidades de uma mesma cor é a obra "Teoria das Cores", publicada pelo cientista alemão Wolfgang von Goethe, em 1810.
Ele começa suas investigações tentando entender como nasciam as sombras das cores nas pinturas. Como não encontrou respostas conclusivas com os próprios pintores, teve que buscar novas fontes de informação, extrair conhecimento de observações e o aprofundamento de toda esta investigação o levou a trabalhar quase três décadas neste livro, antes de publica-lo.
Depois de questionar Newton e ampliar muito os critérios da investigação sobre as cores naquela época, de questionar luz, sombra, tons e meio tons, ele abre a perspectiva de pesquisa inédita até então - o efeito das diferentes cores sobre seres humanos. Falando mais especificamente, Goethe se detém em definir o "efeito sensorial-moral das cores".
A sua publicação até hoje é uma referência para os profissionais de design. É necessário também pesquisar e estudar tudo que foi publicado depois sobre o efeito das diferentes cores sobre seres humanos. Mas é importante salientar que não existem receitas prontas.
O amadurecimento estético e semiótico de um criador vai além da sua bagagem teórica. A intuição e a criatividade são a essência da genialidade de representar as emoções em uma obra. E claro, a experiência acumulada de conhecer a diferença entre o efeito provocado e o efeito pretendido com o uso de uma cor, vai lapidando e refinando esta maturidade.
Falando mais claramente, se determinado tom de laranja nos comunica pedras com brilho e frutas maduras, pode significar atração, sabor e prazer. O que faria desse tom uma cor indicada para um ambiente de refeições por exemplo.
Mas a diferença de resultado entre pintar as paredes dessa cor ou optar por usá-la apenas na cor da iluminação e em alguns objetos destacados no ambiente é incrível! Qual das duas soluções seria a mais sensual? Qual das duas soluções vai conquistar mais clientes e faze-los consumir mais?
Na moda esta sutileza e elegância é uma exigência crucial para quem quer vender bem suas coleções.
Vou me atrever a fazer uma interpretação de uma cor e da sua força em um modelo fictício, criado para vender neste período de isolamento social, causado pela pandemia.
Fatores escolhidos para criar o meu modelo:
- Alguns tons de rosa são extremamente aconchegantes, sem perder sua alegria e sensualidade. Escolhi um tom de rosa fúcsia, porém com uma intensidade suave.
- Quero trabalhar com esta cor porque ela conversa com estes sentimentos presentes nesse momento de isolamento social, marcado pela carência de presença física e de afeto.
- No entanto uma roupa rosa muito festiva pode não agradar agora que o recolhimento não é uma escolha. Acredito nisso porque suponho que as pessoas não querem se vestir para uma festa que não podem ir.
Como usar esta cor em minha coleção para conseguir que as pessoas se conectem com esta emoção, se identifiquem e desejem comprar o meu modelo?
A solução no meu imaginário foi criar uma jaqueta de moletom em tons de jeans lavado, forrada de pelúcia com este tom de rosa. Porque a minha intenção é levar aconchego, alegria e sensualidade para a intimidade, sem perder as cores e a malha que conversam melhor com o ambiente coletivo agora.
Posso também trabalhar com esta cor no desenho de aguns ícones da comunicação gráfica estampada em modelos de camisetas. Posso até criar um personagem com ela.
Em outras palavras, diante de uma cor podemos identificar um sentimento e criar um significado quando colorimos um determinado estilo com ela. Um mesmo tom de rosa vai comunicar uma coisa em modelos de moda luxo adulto e outra coisa em modelos de moda casual infantil.
Mas o que destaca um sucesso de vendas é fazer tudo isso falar também do mundo em que estamos vivendo e da empatia com a visão individualizada do perfil das pessoas que usam o seu produto. Como será que uma criança está se sentindo nesta pandemia? Como será que uma mulher que usa moda luxo está se sentindo nesta mesma situação?
Diante de tudo isso, penso que uma investigação de cores para um determinado modelo, para um tipo de cliente, que vai usá-lo em determinada situação, deve começar pelo caminho inverso dos criadores da escala de cores da estação.
Precisamos ligar as cores dos tecidos, estampas e aviamentos disponíveis nas cartelas dos nossos fornecedores, com onde estes tons são encontrados na natureza. Estamos diante de um vermelho sangue, larva incandescente? Ou estamos diante do tom que as frutas vermelhas deixam nos lábios?
Depois, precisamos ter em mente qual é a identidade que criamos para aquele modelo e o que na natureza conversa melhor com esta identidade.
E finalmente, para se destacar desta receita básica, é preciso se perguntar o quanto esta intenção da cor deve estar bem óbvia e o quanto deve estar apenas sugerida.
O quanto deve estar vinculada ao que estamos vivendo ou o quanto deve estar vinculada aos nossos sentimentos mais íntimos enquanto passamos por tudo isso.
Sensualizar uma emoção com uma cor é uma arte! É também um instrumento poderosíssimo de representar sentimentos e criar conexões.
Sugestão Modacad de roteiro para a escolha das cores dominantes em uma coleção. Clique com o botão direito sobre a imagem para salva-la.
Neste momento em que vivemos emoções tão fortes, acredito que não só o sucesso de vendas dos modelos pode se beneficiar da representação da identidade da criação nas cores.
É preciso estar atento ao impacto que as cores vão causar nas pessoas neste momento que estamos todos tão reativos. Com as emoções à flor da pele, nossas respostas aos estímulos também serão exaltadas.
Respostas positivas como a empatia ou negativas como a rejeição vão acontecer de forma mais convicta, sem meio termo. O momento é de fazer escolhas bem criteriosas e trabalhar cada vez mais atento às emoções das pessoas.
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