Primavera Verão 21/22 - Macrotendências, como acertar nas vendas no próximo verão
Analisando as macrotendências identificadas pelas agências mais conceituadas, finalmente enxerguei uma ligação mais clara entre as grandes mudanças de comportamento depois da permanência do isolamento social e as tendências projetadas para os próximos anos.
Parece que, depois de um período sem previsibilidade de continuidade, estamos voltando, aos poucos, a poder traçar alguma linearidade entre o presente e o futuro.
Mas antes de falar de tendências, começo falando de duas certezas que vieram para ficar. A inclusão da diversidade de todos os biotipos da humanidade no processo produtivo de roupas e acessórios e o consumo inteligente e responsável.
Não podemos falar em sustentabilidade, sem eliminar a produção de roupas que excedem a oferta para um grupo de consumidores, enquanto a demanda não atendida de tantos outros grupos de pessoas deixa de movimentar um mercado ainda inexplorado e muito rentável.
Diminuir a quantidade de resíduos é essencial para a moda sustentável e as roupas feitas com tecidos reciclados terão destaque nas próximas temporadas (Crédito:holly harry/iStock)
E outra coisa certa é que o consumo inteligente e responsável veio para ficar. Compre local, compre de mão de obra justa, compre de produção sustentável, mas antes de tudo isso, compre se necessário. Essas são as suas leis.
Compre menos e compre melhor é uma atitude que leva a rentabilidade dos negócios de moda para a valorização dos produtos por todas as qualidades acima.
Segundo a agência WGSN, cada vez mais um número maior de pessoas vai estar disposta a pagar por mais qualidade e menos quantidade.
É isso que vai manter a rentabilidade dos negócios de moda, ainda que caminhando na contramão da produção anual de cerca de 7 bilhões de peças, com o descarte de quase 30% deste volume porque não consegue ser vendido.
Isto não é mais uma questão retórica. Vai sair na frentes nas vendas quem começar as mudanças no processo produtivo e na comunicação de transparência com o consumidor o quanto antes.
O Pacto Global da ONU tem recorde de inscrições de empresas brasileiras em 2020. A alta de cerca de 25% no volume de inscritos no Brasil foi recorde global. Agora, a iniciativa da ONU conta com 1.300 empresas brasileiras.
Fonte: Infomoney
A reportagem explica o que é o Pacto Global e como "o índice auxilia o investidor a gerenciar riscos reputacionais e analisar os impactos sociais, ambientais e de integridade dos seus investimentos".
O mercado financeiro agora também é uma força motriz destas mudanças que já estão em curso e ganhando tração.
O que muda no mercado consumidor de Moda
A geração Z entrando no radar do mercado
Pessoas com menos de 24 anos são identificadas como a geração Z e já no ano que vem serão o maior impacto nas métricas de novos consumidores.
Começa a criação de produtos para uma geração de pessoas que nasceu e cresceu com o mundo enfrentando grandes desafios ambientais, sociais, econômicos e políticos. Estas pessoas lidam de forma muito mais direta e pessoal com valores morais e sociais.
Valores como por exemplo a inclusão social, a liberdade de gêneros, recuperação e proteção ambiental, a economia circular e sustentabilidade para eles são questões fundamentais para a humanidade e também são, por isso mesmo, responsabilidade pessoal de cada indivíduo do planeta.
A conectividade é uma forte característica da Geração Z(Crédito:Alessandro Biascioli/iStock)
São pessoas com interatividade digital muito arraigada em todas as atividades da sua vida. Na vida pessoal, profissional, nos estudos, entretenimento e consumo, a mídia digital já faz parte da rotina destas pessoas muito antes da chegada do isolamento social.
Intimacy Schools - how to be human 101
"Escola de Intimidade"
Tendência de comportamento identificada pela agência WGSN
No conceito, Intimacy Schools fala de uma legião de pessoas no mundo todo cujos relacionamentos online já superam os relacionamentos presenciais e a perda de habilidades sociais de relacionamento teria produzido a necessidade de reaprende-las com “aulas de intimidade”.
As pessoas estão cada vez mais se relacionando digitalmente do que presencialmente (Crédito:da-kuk/iStock)
Uma curiosidade sobre esta tendência é o olhar ingênuo, às vezes até romântico destas pessoas, que parece explicar o gosto de adultos pela fantasia e pela forte identificação com personagens distanciados da vida real.
Outro fator preponderante para a criação de produtos para estas pessoas é também a interatividade digital muito arraigada em todas as atividades da sua vida.
Storytellers
"Tendência identificada pela Tecelagem Vicunha"
Do passado ao futuro na criação de um visual vintage plural e autêntico onde as princesas atuais não são nada ingênuas, mas sim empoderadas, modernas, repletas de atitude.
Guia Jeans Wear
O estilo misturando o vintage com o original, desenha trajetorias entre culturas, que "contam a história" da mistura destes saberes. Os modelos são um registro visual e sensorial de uma coisa "em acontecimento".
Muito legal esta ideia porque ela questiona o previsível e pode até unir conceitos tão distintos quanto a diversidade e a individualidade em um só modelo.
E como eles mesmos definem, este estilo "e´o supermercado de estilos com brilhos, aparência acetinada, colors, volumes, alfaiataria, tie dye, estampas florais e de poás, mom jeans – roupas que valorizam o consumo consciente e a multiplicidade."
Enfim, é um viva à liberdade e à diversidade!
O que muda nas tendências de Moda
Entre opções super variadas, escolhí algumas tendências de moda que conversam com estes novos consumidores e com o acelerado movimento de inclusão digital que afeta todos os seres humanos do planeta.
Above the Keboard Dressing - comfort below waist, business above
"Acima do teclado, visual para o social e o trabalho. Abaixo da cintura, conforto e despojamento."
Na moda, Above the Keyboard Dressing é uma tendência que se materializa em modelos elaborados com bastante evidência na parte de cima e mais despojamento na parte de baixo. São modelos criados para a interface digital de comunicação entre as pessoas e o design é criado para o que aparece com mais frequência na tela.
Como a interface digital engloba pessoas de todas as idades e perfis culturais e sócio econômicos, o estilo das coleções Above the Keyboard Dressing é muito variado.
Look inspirado na tendência Above the Keyboard Dressing (Arquivo pessoal Lívia Monteiro)
Esta tendência vai estar presente na alfaiataria profissional, na moda casual, na moda formal e até na moda luxo, porque agora as pessoas se vestem para todas as ocasiões em eventos virtuais.
Na atitude trata-se de criar na interface digital experiências emocionais e sociais tão ricas quanto no contato presencial. Por isso este estilo se materializa em extremos como conforto e modelos atemporais e a ousadia do design de modelos exóticos e às vezes quase caricaturais, que proporcionam a experiência de viver um personagem.
Modelos luxuosos, maquiagens e penteados muito elaborados vão ter a aceitação deste púbico, bem como cropeds com blazers de alfaiataria, maquiagem e acessórios despojados. Isso vai depender da ocasião e da comunidade digital em que se insere a vida pessoal e profissional de cada pessoa.
NIKSEN doing absolutely nothing
"A tendência holandesa de bem-estar que permite que você não faça absolutamente nada."
Esta tendência fala da busca do bem estar como contraponto ao stress de tantas incertezas e esgotamentos físico e mental. Mas também vê este bem estar de um outro extremo, que é a gratificante valorização da vida presente.
Na moda ela se materializa em cores alegres e aconchegantes, tecidos que beneficiam a saúde e estilo que resgata para a vida em família e amigos a exuberância da beleza e sensualidade, antes presente na vida social e pública.
É um resgate da beleza e da alegria como alimento para a nossa saúde emocional, psicológica e física.
O polêmico Sexigan
Há uns dois anos atrás, o cardigã, uma peça de sobreposição, desestruturada, quase sempre relevada a coadjuvante em um look, começa a ser usado sobre a pele, revelando por frestas e aberturas as peças íntimas e a silueta do corpo nu, numa proposta sensual que provocou reações de todas as intensidades e opiniões.
Mas uma coisa é fato, só a força de uma sensualidade poderosa provoca tamanha reação. Porque o sexigan está voltando à cena? Como seria uma releitura deste fenômeno agora?
Cardigã e cropped estão entre as tendências da próxima temporada primavera verão 21 22 (Crédito:LightFieldStudios/istock)
Os croppedes já invadiram a moda luxo e a alfaiataria. O home office trouxe a informalidade para muitos tipos de eventos. A interface digital permite formas de intimidade diferentes.
Como isso pode provocar a imaginação dos estilistas? Como esta ideia pode ser repaginada com novos materiais e até com outros tipos de peça?
BORO make do and mend
"Fazer e consertar"
Esta tendência, assim identificada pela agência WGSN, é uma nova narrativa de um comportamento que já vem se consolidanado a alguns anos, segundo a própria WGSN.
O patchwork é uma das tendências para a próxima temporada primavera verão 21 22 (Crédito:Neyya/iStock)
Na moda, Boro é uma tendência que se materializa em modelos produzidos com técnicas artesanais, como as peças de tricô e crochê, em materiais como tecidos de patchwork, em muita variedade de rendas e aviamentos decorativos, em acabamentos como apliques e bordados, em tingimentos artesanais e tudo o que mostre que o modelo foi trabalhado com uma intenção e dedicação diferenciados.
Reparos criativos que renovam e personalizam uma peça de roupa antes avariada, e mesmo o upcycling, que produz novos modelos usando como matéria prima roupas descartadas, também se encaixam perfeitamente nesta tendência.
Na atitude trata-se de mudar a associação da estética visual destes trabalhos à ideia de precariedade para uma forte associação às ideias de originalidade e sustentabilidade.
Quando consideramos a originalidade, as peças artesanais são únicas e os reparos em uma roupa podem ser feitos de forma criativa, como intervenções para personalizar e repaginar um modelo.
Quando consideramos a sustentabilidade, a preocupação em contribuir pessoalmente para a recuperação ambiental do planeta é mais do que uma atitude individual.
. Consertar e não descartar é um dos pilares da moda sustentável (Crédito:NATALIA KHIMICH/iStock)
O estilo Boro é também um posicionamento público a favor desta ideia. Ele confere ao indivíduo o status de comprometimento com uma causa coletiva e de pertencimento a uma tribo alinhada com esta causa no mundo todo.
A força contida nos sentimentos que materializam esta tendência já estava latente a algum tempo e o seu crescimento lento e constante deu forma a estes comportamentos antes difusos, que agora são identificáveis em tendências tão concretas.
Observando este processo, podemos supor que esta tendência tem raízes profundas e duradouras em todos os setores do mercado.
Na moda, sua longa permanência vai se dar não apenas na originalidade da criação de estilos renovados com estas técnicas.
Vai se dar também na continuidade da criação de negócios de moda nas áreas de reuso das peças, de serviços de personalização, do mercado de trabalhos manuais e modelos de negócios cuja originalidade sequer podemos imaginar.
Alguns já chamam o crescimento deste perfil de negócios de "Boom Vintage"!
Podemos estar diante de situações tão difíceis de prever quanto uma artesã isolada nos confins do mundo, ter peças exclusivas e assinadas do seu trabalho manual sendo desfiladas em passarelas de luxo pelo mundo.
Conclusão
Quando me deparei com os resultados das pesquisas de tendências para a Primavera Verão 2022 no hemisfério norte, que já estão pautando a Primavera Verão 21/22 aqui no Brasil, encontrei um cenário confuso e difícil de interpretar.
Um pouco de novas narrativas para os mesmos comportamentos das últimas coleções, ainda muito presentes, e novidades espalhadas em aspectos e comportamentos difíceis de alinhavar em uma percepção conjunta.
Garimpando as novidades verso as "continuidades" nas tendências de cores e estampas, tecidos, estilo e modelagem, misturadas com o que fez sucesso neste verão que já aconteceu no meio de 2020 no hemisfério norte, finalmente identifiquei uma novidade pairando sobre todas as novas tendências, ainda que esta novidade se revele de diferentes formas em cada uma delas.
As trocas, brechós e bazares estão cada vez mais conquistando adeptos nesses novos rumos da moda que buscam diminuir o consumo desenfreado, o lixo têxtil e os impactos que a moda gera (Crédito:holly harry/iStock)
É uma interpretação muito pessoal, mas para mim, esta novidade é a percepção mais profunda de que as principais mudanças em nossas vidas pessoal e profissional não tem volta, mesmo quando a pandemia terminar.
A longa permanência neste estado de exceção foi flexibilizando nossas resistências e medos de encarar o fato de que não voltaremos para a vida como a conhecíamos antes.
Ainda que vencidos pelo cansaço, já estamos reconstruindo nossas vidas privada e profissional não mais para sobreviver a um período, mas para seguir em frente e continuar em busca das nossas conquistas na vida, só que daqui para frente, fazendo isso com bases sólidas e permanentes.
Tudo isso pautou a escolha por uma linha editorial de falar de macrotendências em um universo mais amplo neste primeiro texto da série Primavera Verão 21/22.
A ideia é o leitor ter interpretações de maior alcance para extrair ele mesmo os desejos do consumidor que identificar como mais poderosos para pautar a sua coleção.
Nos dois próximos textos sobre Primavera Verão 21/22, vamos inverter esta escolha editorial falando de forma mais detalhada e concreta sobre “Cores, estampas e tecidos” e “Estilo e modelagem”, esperando assim ser útil também no universo prático da produção de uma coleção.
Não perca os próximos textos!
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Leia também nosso post sobre "Economia circular e a moda circular que já está acontecendo" e "Os desafios da sustentabilidade na moda".
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